segunda-feira, 28 de outubro de 2013

DIREÇÃO ESPIRITUAL PARA QUEM DESEJA AJUDAR AS PESSOAS A CRESCER NO AMOR DE DEUS

Direção Espiritual Caro leitor, o presente trabalho tem como objetivo ajudar as pessoas a compreenderem melhor a ciência sobre a Direção Espiritual. Trata-se de um acompanhamento espiritual ministrado por um sacerdote, religioso (a) ou leigo devidamente preparado. A Direção Espiritual faz parte da Teologia Espiritual, como também da Teologia Pastoral. Ambas as ciências estão interessadas em colocar em prática a arte do bom relacionamento entre Deus e as pessoas. Quanto à Teologia Espiritual seu objetivo é a vida no Espírito, ou seja, a própria vida espiritual. O Espírito Santo é o guia principal. Portanto, cabe ao Diretor Espiritual conhecer e experimentar, ter de fato, o testemunho de quem percorreu as vias interiores. O Diretor é sempre alguém que já avançou bastante na vida de oração e tem a capacidade de ajudar seus dirigidos na difícil arte de viver em comunhão com o Senhor. Não compreenderemos nada de Direção Espiritual se deixar de lado o Espírito Santo. O Espírito é o fulcro. É o ator e sujeito principal e a vida segundo o Espírito. É a vida segundo o Espírito que devemos sempre almejar. O Diretor e dirigido deve ter cuidado para não fazer dos encontros sessões de psicoterapia. O Diretor não é um psicoterapeuta. Ele deve ter noções de teologia e conhecimentos básicos sobre psicologia, mas se ele mistura as coisas, além de ser ilegal exercer um ofício para o qual não é autorizado, acaba não resolvendo o problema do dirigido e perde todo tempo. Muitas vezes encontramos pessoas que procuram orientadores para desabafar. Elas querem tê-los como companheiros, amigos ou como confidentes de suas dores e amarguras. O diretor deverá saber os caminhos para não alimentar relacionamentos imaturos e deslocados dos objetivos que a direção espiritual deseja focar. Cabe a ele orientar a pessoa enferma, descobrindo o modo melhor para fazê-la caminhar no rumo certo. Caso seja necessário, indicar um bom profissional que possa ajudá-la. O presente trabalho é fruto de minha experiência sacerdotal. Foram mais de 18 anos de sacerdócio, pesquisando e atendendo o povo de Deus nas diversas paróquias da Diocese de Patos de Minas MG. Enquanto estuda no Seminário Maior “Maria Imaculada”, no período de 1990-1995, tive oportunidade de estudar o livro “A prática da direção espiritual”, do autor William Barry e William Connolly. Por ocasião do mestrado em Roma 201-203, o material usado foi o livro Direzione Spirituale, de Benedetto Goya. Em julho de 2008 tive uma grande experiência no campo da Direção Espiritual. Participei dos Exercícios Espirituais inacianos. Durante 30 dias fiz uma experiência inédita. Cinco horas diárias de oração pessoal e contato com a Palavra de Deus. Por meio desta experiência como também das aulas no tempo de seminário, somados com o estudo em Roma, leituras de bons livros sobre a direção espiritual. Outras obras duas obras muito usadas neste trabalho é “La Direzione Spirituale, teoria e pratica, do autor”: Luis M. Mendizábal e “La Direzione Spirituale Oggi”, do autor: Raimondo Frattallone. O presente trabalho conta também com algumas obras... 1. Ambiente de trabalho O local onde acontece a Direção Espiritual deve ser arejado, decorado com simplicidade, evitando que se tenha diante dos olhos do dirigido algo que possa dificultar sua abertura de coração. Uma pessoa não se sente bem se o ambiente é hostil, onde não se pode fazer silêncio ou quando é decorado com mil figuras estranhas, cadeiras desconfortáveis, ambiente sujo ou coisas do gênero. Há autores modernos que contesta esta ideia, dizendo ser possível fazer direção espiritual até mesmo numa fila de banco, numa praça ou estádio de futebol. Tenho realizado algumas direções espirituais em lugares públicos, porém, tive que enfrentar algum tipo de obstáculo. O conforto ajuda na concentração. Fazer direção espiritual numa praça pública ou diante de uma bela paisagem pode ser prazeroso, mas até mesmo a natureza pode também dificultar a pessoa que deseja aproximar de Deus. O melhor espaço é numa sala devidamente preparada para tal fim. Não se esqueça de algum tipo de conforto como água, local de acesso a banheiros. A limpeza é fundamental. É bom ter sempre uma caixa de lenços descartáveis. O ideal é ter uma mesa e duas cadeiras. 1.2 A fase da pré-ajuda 2.2.1. Preparando o ambiente físico (nunca neutro) • O que é? Arranjar o ambiente físico em que a pessoa vai ser atendida, levando em conta que esse ambiente é a extensão do atendimento do orientador. • Para quê? Se eu cuido do ambiente físico, cuido indiretamente da pessoa, de modo a fazê-la sentir valorizada. • Como? Manter o ambiente limpo e bem conservado. • Oferecer pequenos cuidados à pessoa (revistas, banheiro, caixa de lenços etc.). • Eliminar qualquer desconforto do ambiente (temperatura, ruídos, grande movimento de pessoas, claridade, etc.). • Garantir privacidade à pessoa (vedação acústica, vedação visual, não interromper, telefonemas, outras visitas, etc.). 2.2.2. Acolhendo • O que é? Receber a pessoa calorosamente ao se iniciar o encontro com ela; • Para quê? Se eu acolho a pessoa lhe transmito receptividade e interesse, de modo que ela se sinta valorizada; • Como? Dirigir-se à pessoa usando seu nome; • Cumprimentá-la (contato físico, abraço, aperto de mão); • Individualizá-la (cortou o cabelo, está gripada, machucou-se); • Nutri-la fisicamente (água, café, toalha, etc.). 2.2.3. Atendendo fisicamente • O que é? Comunicar ao ajudado disponibilidade e interesse através do corpo; • Para quê? Se atendendo à pessoa fisicamente, transmito-lhe mensagens de interesses, de modo a envolvê-lo no processo de ajuda. • Como? Aproximar-se. • Ficar de frente. • Inclinar o corpo para frente. (olhos, fonte de comunicação); • Manter contato visual (dosagem adequada) • Manter fisionomia receptiva (nada de sobrancelhas levantadas, boca caída, testa franzida). • Concentrar-se (não fazer nada que não seja prestar atenção à pessoa, por ex. rabiscar em papel, brincar com objetos, olhar o relógio, fumar, etc.). • Manter a mesma altura (cuidado com as pernas cruzadas, braços cruzados, cotovelos apontados à pessoa, pés em posição de andar). 2.2.4. Contemplando • O que é? OLHANDO – Usar o olhar para captar as mensagens não verbais. • Para quê? Se eu contemplo à pessoa, posso receber mensagens significativas sobre o que ela está vivendo de modo a conhecê-la melhor. • Olhar o comportamento da pessoa. • Inferir nível de energia (p. ex. nos ombros). • Sentimento (olhos cheios de água, respiração, ritmo cardíaco). • Prontidão (presença, ausência). • Relacionamento (contato visual, delimitação de seu território corporal). • Coerência (o que vejo é mais real do que aquilo que escuto). 2.2.5. Princípio da observação efetiva • Deve ser discreto ao observar a pessoa (naturalidade, não vigiando). • Deve ser persistente e paciente na sua observação. • As interferências só se tornam verdades quando confirmadas pela pessoa. • Há um momento exato para se comunicar à pessoa alguma observação a seu respeito. • Algumas observações não precisam ser comunicadas à pessoa. 2.2.6. Escutando • Que é? Usar os ouvidos para captar as mensagens verbais transmitidas pela pessoa. • Para quê? Se eu escuto a pessoa, deixo entrar tudo o que ela quer transmitir-me de modo a compreendê-la melhor. • Como? Ficar calado. • Não interromper. • Evitar distrações externas. • Evitar distrações internas (físicas e emocionais). • Suspender julgamentos. Texto tirado do livro “A prática da direção espiritual” William Barry e William Connolly 2. O que é Direção Espiritual? Introdução Iniciemos nossa aventura utilizando os textos de Maurício Costa, um jesuíta que há muitos anos trabalha com a Direção Espiritual. A direção espiritual é uma ajuda concedida por alguém que tenha vivido grandes experiências de intimidade com o Senhor, tendo como destinatário pessoas que desejam progredir no caminho da santidade e da vida cristã autêntica. Trata-se de “uma orientação que permita o dirigido conhecer a vontade do Senhor e perseverar na vida espiritual, onde colherá os bons frutos da amizade com Deus e do bom relacionamento com o próximo”. 2.1. Diálogo e experiência com Deus Segundo W. Barry e W. Connoly, o diretor presta atenção na comunicação pessoal de Deus com o dirigido a responder a esse Deus pessoalmente comunicante a aumentar a sua intimidade com ele, vivendo as consequências desse relacionamento. A direção espiritual sugere algo mais que dar conselhos e resolver problemas. Uma das implicações fundamentais é o diálogo amigo em torno da experiência de Deus, da busca de uma comunhão intensa com Ele. Implica também que a conversa seja com objetivo específico, isto é, capaz de ajudar o dirigido a encontrar o próprio rumo, tendo o Cristo como o Caminho, a Verdade e a Vida. A finalidade da Direção espiritual é encontrar o Deus vivo, e, encontrando-O, crescer cada vez mais em santidade. Conhecer e encontrar Cristo é um dos objetivos da direção. Por meio dele encontramos a paz, a harmonia, a força dinâmica que nos ajuda a vencer obstáculos e crescermos na comunhão com Deus. O Espírito Santo é o mestre em comunicação. Ele é quem orienta e ao mesmo tempo age na vida do dirigido como luz que ilumina e dá sentido à sua vida. Experimentar Deus é contemplá-lo, amá-lo, glorificá-lo, participar de sua santidade, ser alimentado por sua graça. A experiência de Deus não acontece num piscar de olhos e nem pode ser compreendida como algo que vem de cima para baixo como milagres. Afinal de contas, Deus que é Infinito quis participar de nossa história humana, enviando seu Filho. Ele nasceu de uma família para nos mostrar que somos importantes para Ele. Deixar o Espírito agir em nós, fazer experiência de Deus é refletir, meditar, contemplar os fatos do passado e do presente em que Ele está sempre presente, no meio de nós, nos abençoando e indicando o caminho a ser percorrido. Trata-se de uma experiência pessoal com o Senhor, podendo, é claro ser feita por diversas iniciativas comunitárias: encontros, retiros, palestras. 2.2. Descobrindo a vontade de Deus Para Santo Inácio de Loyola a direção espiritual é um meio fundamental de formação e de perseverança nos caminhos da perfeição. Através dela o cristão descobre a vontade de Deus e, sobretudo descobre a sua vocação. Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação (1Ts 4,3), é fazer aquilo que é do agrado de Deus (Jo 8, 29), 2.3. Comunicação da fé A Direção espiritual “é a comunicação da fé” (J. Laprace), ajuda que um homem (mulher) oferece a outro (a) para tornar-se ele mesmo na fé. Trata-se de um modo particular de comunicação. Este diálogo tem como referência a experiência pessoal-existencial e a verdade profunda do outro, da vida de quem será dirigido. O diálogo acontece num clima de amizade, confiança e espontaneidade. 2.4. Movimento em direção a Cristo Na visão do Cardeal Martini, outro jesuíta, a Direção Espiritual é sempre um movimento. Ela deve iluminar, durante a caminhada, estimular o dirigido a seguir Cristo. Por isso é importante conhecer o estado de oração daquele que deseja ajudar. Os passos da direção espiritual podem ser classificados como: conversão, escolha do estado, audição da Palavra, serviço apostólico, missão, visão eclesial. O autor, inspirado por Inácio de Loyola, continua afirmando que na caminhada espiritual é necessário conhecer os principais obstáculos: carne, mundo e satanás. A vida espiritual é uma luta constante, realidade dura e estafante. É educação à maturidade espiritual é uma verdadeira pedagogia para conquistar a liberdade. Atua segundo Deus, na fé, sob a moção do Espírito Santo. Se educa a liberdade exercitando-a, escolhendo na fé, atuando-a sob a ação da graça e do Espírito. A direção é um momento e uma experiência de discernimento espiritual. 2.5. Caminho a ser seguido Na visão de H. Nouwen, a direção indica a linha de um caminho, a meta a ser seguida. A vida cristã é uma peregrinação, um caminho interior, onde podemos encontrar vários atalhos, porém, muitos deles não levam o homem a conquistar a paz interior e a santidade de vida. O objetivo da direção espiritual é a de orientar alguém verso a um fim. A direção espiritual pode ser definida como um relacionamento iniciado por um buscador espiritual que encontra uma pessoa madura de fé que deseje rezar e responder com sabedoria e compreensão as suas perguntas sobre como viver espiritualmente em um mundo de ambiguidades e distrações. O contato com o Espírito Santo torna-se fundamental na conquista de um novo estado interno capaz iluminar o caminho espiritual do dirigido. O que é torno se endireita, o que antes trazia angústias passa a ser oportunidade de crescimento. O que antes era motivo de ódio é transformado em sentimento de amor e paz. A alegria brota no coração de quem deixa o Espírito agir. É claro que o objetivo final não é apenas uma sensação de paz e serenidade, mas a posse do próprio projeto de Deus que exige luta constante, empenho e compromisso. Fazer a vontade do Pai, servir os irmãos, tornar-se madura na fé em Cristo, sob a inspiração de seu Santo Espírito não é brincadeira. 2.6. Desenvolvimento integral Em 1950, um congresso de especialistas definiu a direção espiritual da seguinte maneira: “Ciência e arte de conduzir as almas à própria perfeição, segundo a vocação pessoal”. O fim da direção é a plenitude da vida, ou seja, desenvolvimento integral da experiência com Deus. O mesmo autor acrescenta: “A direção espiritual alimenta o crescimento da vida espiritual, desde os primeiros momentos em que inicia o caminho até a consumação final na morte. O fiel segue um desenvolvimento constante, progressivo, sem jamais parar, mas se prolongo em toda sua vida”. O diretor procura compreender o dirigido sua vida com Deus como Criador, Redentor e Santificador. A relação com a criação (espiritualidade ecológica), a centralidade da experiência da Palavra de Deus, sobretudo o Evangelho e a vida de oração, baseada na ação da graça divina são atitudes que alimenta a vida espiritual e produz muitos e bons frutos. 2.7. Acompanhamento espiritual Segundo Benito Goya, a direção espiritual é uma relação que está mais como companhia espiritual ou amizade onde o diretor está presente como um amigo espiritual que escuta com a intenção de ajudar o dirigido a reconhecer como o Espírito Santo está conduzindo e está trabalhando em sua vida. O destaque está em ajudar o dirigido a desenvolver a vida de oração, ou seja, a relação com Deus. O diretor não conta o dirigido o que fazer, mas apontam pistas seguras para tornar o dirigido cada vez mais livre e seguro de suas decisões. O dirigido toma decisão de maneira livre sobre o que fazer em sua vida espiritual. O diretor perguntará o dirigido sobre sua amizade com o Senhor. Quanto mais o dirigido aproxima do Senhor e nutre de sua Palavra e de seus ensinamentos, mas ele desenvolve a vida de oração. O encontro com o Senhor nos ajuda a perceber o que melhor o agrada e o que melhor convém para nós e para todos. A vida interior está ligada à pratica da Vontade do Pai. Quanto mais somos obedientes ao Pai, mas crescemos em justiça e santidade. Conclusão A Direção Espiritual é um diálogo realizado num clima de amor, porém todo o tipo de recompensa material ou afeição desordenada deve ser rejeitado. O que conta é a maturidade do diretor e a capacidade de não permitir nenhuma transferência ou dependência do dirigido. Dirigir almas é um ministério que exige disciplina, dedicação e maturidade cristã. É um serviço não remunerado, realizado em prol da transformação da pessoa do dirigido. Aquele que tem o dom de ajudar o irmão deve acolher o Espírito do Senhor e servi-lo com alegria (1Cor 12, 4). Trata-se de um serviço tão especial e necessário que os fiéis devidamente preparados são convidados a ajudar outros irmãos a caminharem na fé, formando novos discípulos por meio da arte do acompanhamento espiritual. O crescimento espiritual depende da ação do Espírito, mas são necessárias pessoas que saibam serem instrumentos de Deus na vida das pessoas. As metas a serem alcançadas na direção espiritual são: conhecimento da vontade de Deus, seguimento a Cristo, transformação interior e melhoria das relações com o próximo. A Direção Espiritual é uma peregrinação que exige discernimento, análise, exame de consciência e coragem para refazer o caminho quando for necessário, abastecer os reservatórios interiores com oração e vontade de seguir sempre o caminho que nos conduz á realização pessoal. O foco principal é a vida de oração que tem como desfecho final o apostolado. A direção ajuda os fiéis a descobrir sua identidade e sua missão. Para isso é preciso saber sobre como desenvolve a direção espiritual e quais são as características mais importantes do diretor espiritual. É o que veremos nos capítulos seguintes. 3. Como desenvolve a Direção Espiritual? Introdução O mundo carece de pessoas que fazem de sua vida um dom para os outros. Encontramos pessoas orgulhosas e autossuficientes em sua caminhada espiritual. O médico não é capaz de curar a si mesmo. O psicólogo deverá procurar outro profissional e o padre também deverá procurar um irmão no sacerdócio para ser orientado. Cabe ao diretor espiritual ser um “presente” para o dirigido, alguém que o ame, o respeite e torna cada dia mais livre para servir e amar a Deus, em meio à sua família, comunidade e toda a sociedade. A direção espiritual está situada no campo da vida, entre os nossos condicionamentos psicológicos, virtudes e vícios que fazem da pessoa humana, santos e vilões, grandes personalidades ou péssimos profissionais. Com a ajuda da graça de Deus, o diretor espiritual saberá conduzir o dirigido no caminho da fé, rumo à maturidade, equilíbrio e paz duradoura. 3.1. Encontro com Deus uno e trino Deus nos chama à santidade. Trata-se de um chamado à comunhão. Ele nos chama a intimidade com ele no amor. De nossa parte, devemos ouvir seu apelo e, por meio de Jesus Cristo, na potência de seu Santo Espírito viver o seu projeto como filhos. Samuel respondeu a Deus: “Fala Senhor, pois o teu servo escuta!” (1Sm 3, 10). Nossa resposta é acreditar no único Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que enviou o seu Santo Espírito para nos divinizar e atingir a maturidade de fé. A iniciativa é de Deus. Ele nos guia por meio de seu Filho e com o Espírito da verdade. A direção espiritual é um dom de Deus no qual todos são chamados a dizer sim a Deus, sendo fiel aos seus mandamentos de amor. Se Deus é misericórdia, bondade, nossas atitudes deverão seguir esta mesma ordem. “Todos que são guiados pelo Espírito do Senhor são filhos de Deus” (Rm 8, 14). É o Espírito do Senhor quem nos ajuda a amar a Deus com todo o coração, alma, mente e força (LG 40). O diretor deverá tomar consciência que qualquer tipo de ajuda será frutuoso se o dirigido está aberto ao Espírito Santo. O processo de formação espiritual acontece num clima de oração, estimulo, luta em prol da concretização de um ideal. A oração do Pai nosso é um exemplo de que nossa vocação é a de sermos filhos do Pai. Deus bate na porta de nosso coração na esperança de ser convidado. Ele respeita nossa liberdade e sempre nos faz sua proposta. Quanto ao diretor deverá estar atento para instruir o dirigido a ser fiel a Deus uno e trino, e que sua experiência com do divino atinge todas as áreas de sua vida. Em Jesus fazemos parte da Igreja que é o seu corpo. Se desejamos estar bem, necessitamos obedecer a Cristo que é a cabeça deste corpo. Seus ensinamentos são como luzes a iluminar nossos caminhos. Em Cristo somos chamados pelo nome. Ele é o nosso pastor (Jo 10, 3-4). Apesar de acharmos sua proposta um tanto radical, ele nos adverte: “Meu julgo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11, 28-30). A Palavra de Deus é critério para o bom desenvolvimento da vida espiritual. É por meio dela que o diretor e dirigido toma consciência da existência de Deus e de sua ação no mundo interior. Refletir, meditar e contemplar este mesmo Deus são tarefas irrenunciáveis na busca de um novo estado de vida que eleva cada dia mais o dirigido à participação consciente na vida divina, ou seja, a vida no espírito, sem deixar sua caminhada cair num espiritualismo. Por outro lado, desenvolve uma caminhada espiritual encarnada na história, comprometida com a transformação do mundo e da vida das pessoas por meio da caridade fraterna, da partilha e do serviço aos mais necessitados. 3.2. Espírito Santo como Guia A primeira atitude do diretor espiritual é a consciência de que o Espírito Santo é o único Guia. Podemos também chamá-lo de “Espírito do Cristo ressuscitado”. O diretor deverá estar atento para não ocupar o primeiro lugar, pois a atitude que mais produz fruto na Direção Espiritual é a capacidade de levar o dirigido a fazer experiência de Deus. É a graça de Deus que transforma a vida o ser humano. a graça nos ajuda a viver nosso estado de vida, nossa vocação na Igreja. Cada pessoa é única, irrepetivel deste sua origem, seu temperamento, sexo e potencialidades são marcas de sua identidade a qual deve ser respeitada. Por isso, o Espírito do Senhor deve ser acolhido e experimentado de forma personalizada. Ninguém tem o direito de impor sua experiência espiritual a outros. Poderá apontar os caminhos, dar o testemunho como se fosse uma seta, uma placa que instrui, motiva e apresenta as vantagens para ajudá-lo, bem como mostrar as ações dele em sua vida. Correria o risco apresentar apenas a teoria sobre o Espírito e tornar a caminhada mais árdua e pesada. O Espírito do Senhor age por meio da Palavra, sacramentos, oração, liturgia, magistério da Igreja. Por isso, o primeiro critério da direção é ouvir o que o Espírito tem a nos dizer. Cabe ao dirigido fazer silêncio, ouvir a Palavra de Deus por meio da oração. Agindo assim, descobrirá qual é a vontade de Deus, ou seja, as vias seguras que o conduz à maturidade. Tudo isso é fruto do Espírito Santo que sopra aonde quer (Jo 3, 8). Respeitando a caminhada do dirigido, se ele está no início ou no meio do processo de maturidade, o dirigido pedirá as luzes do Espírito Santo, logo em seguida iniciará a direção espiritual. Muitas vezes, a própria pessoa, depois de ser instruído pelo Espírito começa a profetizar, ou seja, a compreender o que fazer e quais as decisões a serem tomadas. A oração do Espírito Santo pode ser recitada, como aquela antiga (vinde Espírito Santo...) ou ser rezada de modo espontâneo. É no diálogo com Deus, por meio de seu Santo Espírito que o dirigido descobre o caminho da santidade, da libertação de todos os obstáculos que o impede a crescer na fé em Cristo Jesus. 3.3. Amar a Deus e ao próximo A direção espiritual se desenvolve em dois níveis, vertical e horizontal. O primeiro diz respeito à nossa relação com Deus e o segundo, com nossos irmãos. Ensinar, governar e santificar. Eis a missão de todos os batizados em Cristo Jesus. A vida espiritual está ligada à vida litúrgica, as ações pastorais, a vivência em família, no trabalho etc. Onde está o homem, ali está o campo onde a direção espiritual deve atuar. A conversão a Deus nos indica o caminho da solidariedade em relação ao próximo. A direção espiritual é o espaço onde produz os frutos da caridade, bondade, paz, alegria, respeito etc. Nela é possível ouvir palavras, questionamentos que ajudem os cristãos na vivência do amor, da partilha da experiência de Deus por meio da oração. Em poucas palavras, a direção espiritual ajuda as pessoas a viver bem sua identidade como filhos (as) de Deus e agir de acordo de acordo com sua Vontade. 3.4. Despertar da fé A direção se realiza no campo da fé. O próprio Espírito Santo passa a ser o Mestre da comunicação. Se a chama do Espírito está apagada, tal comunicação é impossível. A fé é um dom sobrenatural, não é algo que se conquista a custa de lutas, a menos que estas lutas sejam verdadeiros exercícios espirituais. Para comunicarmos uns com os outros a vontade de Deus o diretor deve estar atentos às experiências de oração e à vida fraterna. Um bom músico terá sempre um repertório qualificado. O bom professor acumula conhecimentos para comunicá-los aos seus alunos. O diretor deverá descobrir os critérios para tornar sinal-instrumento de Deus para o dirigido. O diretor deve ser um homem de fé. O que isso significa? Acreditar em Cristo ressuscitado sem ao menos ter tocado em suas chagas, acreditar em suas palavras que curam, que transformam o ser humano, que orienta-nos na direção à vida eterna. Crer é assinar uma folha em branco e deixar que Jesus escreva o que devemos fazer (Santo Agostinho). É acreditar que Deus transforma, ilumina, muda o nosso estado interno, desenvolve habilidades, nos tira do marasmo e nos orienta no caminho da verdadeira paz. Seguindo a linha de pensamento do Cardeal Martini, o dirigido deve saber que o Senhor Jesus deseja que todos sejam seus discípulos. Como é bom ouvir seus ensinamentos, compreender a lógica divina e se libertar das amarras do pecado e de todo o tipo de ideologias. A conversão, mudança de mentalidade é fruto do contato com a Palavra de Deus, momentos fortes de oração e comprometimento, serviço, coragem, determinação e prática da Vontade do Pai, após a um discernimento autêntico. Por meio da fé todas as montanhas da tentação são demolidas. Os vales da injustiça são aterrados e as curvas tortuosas da mentira, do medo são endireitadas. Por meio da fé desaparece todo egoísmo e desconfiança para dar lugar a solidariedade e à vida fraterna, superando barreiras ideológicas e todo o tipo de pecado. 3.5. Modelo: Jesus Cristo A meta a ser seguida tem como modelo o modo de como Jesus conduzia as pessoas a uma verdadeira conversão. Podemos tomar como exemplo e texto a ser trabalhado “a cura do cego Bartimeu (Mc 10, 46-52), “a Samaritana” (Jo 4, 1ss), “a conversão de Zaqueu” (Lc 19, 1-10), os discípulos de Emaús (Lc 24, 1ss) e muitos outros. Cristo nos ensina que é preciso remover os obstáculos: “Retire a pedra!” (Jo 11, 39); “Se o teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti” (Mt 5, 29). “realizar as obras em segredo” (Mt 6, 1ss); “não servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24); “Não ajunteis tesouros na terra” (Mt 6, 19ss); “não julgueis” (Mt 7, 1ss) etc. Cristo nos propõe sua mensagem de forma espontânea e sem forçar nossas escolhas. “se creres verá a glória de Deus” (Jo 11, 40). “Se queres ser perfeito, vai, vende os seus bens e dê aos pobres, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me” (Lc 18, 22). No encontro com Zaqueu Jesus não disse nenhuma palavra de cobrança. Apenas sua presença transformou a vida daquele homem. “Hoje é preciso que eu fico em sua casa”(Lc 19, 1ss); nas bodas de Caná foi Maria quem disse: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5); “Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa...” (Ap 3, 20); etc. 3.6. Visão global O diretor deverá conhecer a doutrina cristã para instruir o dirigido da melhor maneira possível. Por isso, é aconselhável que ele tenha contato com a Palavra de Deus e documentos do Magistério que o capacita a desenvolver um plano de trabalho autêntico. É importante que ele tenha conhecimento das ciências humanas como a psicologia, antropologia e uma boa teologia para desenvolver melhor este sublime ministério. A teologia moral e a teologia pastoral nos ensina que devemos praticar a Palavra de Deus. A teologia sistemática nos oferece os conteúdos seguros. A teologia bíblica nos instrui sobre a intenção do autor do texto sagrado e muito nos ajuda a dar uma orientação certeira para nossos dirigidos. Cabe a teologia espiritual elaborar um processo de diálogo que esclarece o modo de viver de cada um, a fim de santificar, elevando a dignidade de todos à participação na vida divina. 3.7. Experiência de Deus O conhecimento teológico não é tudo. O testemunho tem é fundamental. Pouco adianta conhecer as vias que levam ao Pai se estas não foram percorridas pelo diretor. O bom diretor espiritual deve ser homem de oração para conduzir o dirigido até a presença do Altíssimo. A direção é uma oportunidade para o diretor e o dirigido aumentar a amizade com Deus. Juntos eles poderão alcançar os objetivos. Conclusão O encontro com Deus se desenvolve através do contato com a Palavra revelada, porém o caminho pode ser inverso. Através do próprio ser humano, podemos chegar a Deus. Trata-se de um esforço constante em descobrir a nossa identidade e nossa missão. Para isso acontecer é necessário seguir alguns critérios. Jesus faz somente as coisas que agrada o Pai (Jo 8, 18-19). Ele é obediente ao Pai, por isso, é digno de ser imitado. É também modelo de oração (Hb 10, 5ss). O cristão é chamado a viver de modo dinâmico sua vida espiritual. É preciso caminhar verso segundo o Espírito. O Espírito é o mestre da comunição e transformação interior capaz de nos revelar a verdade sobre nós mesmos e tudo aquilo que nos ajuda a cumprir a vontade do Pai. 4. O primeiro protagonista da Direção espiritual: O Espírito Santo Introdução O Espírito Santo é o advogado, o Espírito da verdade, enviado pelo Pai e pelo Filho. Trata-se do verdadeiro guia espiritual. Somos guiados pelo Espírito Santo. Os apóstolos foram fortalecidos pelo Espírito para cumprir a missão de anunciar Cristo até o fim do mundo. O Espírito é que torna possível a transformação da pessoa e do mundo inteiro. 4.1. O Espírito Santo: guia e mestre da comunicação Quando o Espírito de Deus move em nós, ele transforma a nossa vida. O Espírito comunica força e cria em nós um coração amigo, sensível, capaz de acender em nós o fogo do amor de Deus. Ele nos comunica vida e dispersa toda a dúvida. Ele nos comunica o dom da fé e todos os outros dons de Deus. O Espírito é fonte de alegria e do temor. Ele envia o carinho de Deus, sua misericórdia. Ele cria em nós um coração puro e acende a chama da ternura em nossa vida. Ele nos comunica a paz e todas as verdades divinas. O Espírito nos dá inteligência, entendimento e sabedoria. Ele nos ensina a viver de acordo com a vontade de Deus Pai e nos aponta o caminho para seguir Cristo descobrindo tudo o que nos dá dignidade de verdadeiros filhos de Deus. “O Espírito Santo transforma-nos, ilumina o caminho do futuro e faz crescer em nós as asas da esperança para o percorrermos com alegria” (Lumen Fidei n. 7). A direção espiritual ajuda as pessoas a serem atraídas pela luz da fé num Deus do futuro, que aponta com segurança os caminhos a serem percorridos. O Espírito nos santifica, nos liberta de todos os males. Ele faz de nós homens e mulheres criativos e nos dá a senha da verdadeira felicidade. Ele cria em nós um espírito dinâmico, amigo, capaz de nos aproximar da fonte da vida que é Deus como também aumenta o desejo de servir os irmãos. O homem carnal passa a ser espiritual a partir do momento em que ele deixa a graça de Deus atuar em sua vida. Ser orientados por Deus significa deixar as obras da carne, ajuntar tesouros espirituais onde a traça não corrói e nem ladrões roubam (Mt 6, 19-21). Os desejos da carne e do Espírito mais comuns foram mencionados na carta de São Paulo aos gálatas (Gl 5, 19-21). O Espírito Santo é o primeiro protagonista. Ele é quem dirige a alma do cristão. Ele é o diretor por excelência. Os três guias que podem conduzir o dirigido para fora do caminho: o diretor, o demônio e o dirigido (São João da Cruz). O Espírito é o agente principal. O guia, por sua vez é apenas o mediador entre os dois protagonistas: dirigido e o Espírito Santo. São Paulo afirma: “Aqueles que são guiados pelo Espírito de deus são filhos de Deus” (Rm 8, 14). A razão de nossa filiação divina é que Deus derramou o seu Espírito em nossos corações (Gl 4,6). Uma vez que o Espírito do Senhor está sobre nós, então adquirimos força e coragem para amar a Deus sobre todas as coisas, com todo o coração, com toda a alma e com todo entendimento (Mt 22, 37). Uma das funções do Espírito Santo é recordar de maneira sábia os ensinamentos de Cristo, pois ele é o Espírito da verdade (Jo 16, 13). Ele é o guia espiritual que nos tira daquilo que é simplesmente humano (no sentido carnal) para vivermos as coisas divinas. O homem espiritual caminha no Espírito, e se transforma numa fonte de energia na qual sacia sua fome de Deus e o torna dinâmico, capaz de produzir muitos e bons frutos. O Espírito Santo é o motor de toda a nova realidade na qual todos vivemos, unidos a Cristo como novas criaturas. Ele mora no coração da Igreja e no coração de cada um, de modo especial, dos que foram consagrados a ele. Ele é o mestre e a base da vida de oração. É por causa do Espírito Santo que somos inseridos em Cristo, pois recebemos o batismo do Espírito de Deus, ou seja, um nascimento do alto: “o que nasce da carne é carne; o que nasce do Espírito é Espírito” (Jo 3, 6). 4.2. Vida no Espírito O objetivo principal da direção espiritual é a experiência espiritual ou a vida no Espírito. Trata-se de um esforço constante em confrontar nossa vida com o Espírito do Senhor. O Espírito habita em nós, vive, geme, grita e intercede por nós. Ele habita em nossos corações. De fato, uma vez que somos homens espirituais, o próprio Espírito como dom passa a produzir frutos de salvação. Não podemos negar que o Espírito “trabalhe” em nós. Ele é o princípio de vida. O ser humano é um punhadinho de terra com o sopro divino, como dizia São João da Cruz. O cristão deve fazer experiência de Cristo, abrindo seu coração ao Espírito Santo de amor, de modo especial o mistério pascal. Morrer com Cristo para resuscitar com Ele. Seremos membros de seu corpo quando vivemos o amor e a lei do Espírito. Cristo se transforma no “Espírito doador de vida” (1Cor 15, 45). Quando deixamos o Espírito agir em nós todas as nossas culpas são apagadas, pois é próprio do Espírito a purificar o que está impuro. O Espírito é o respiro de Deus, se ele está ausente de nossas vidas, caímos morto no mesmo instante. A tendência é que ele ocupe sempre mais o nosso coração, nossa mente e nossa alma. Basta permitirmos que ele atue em nós. A direção ajuda o homem a ser maduro na fé e produzir os bons frutos da vida espiritual (Hb 5, 12-14). Quem acolhe o Espírito do Senhor renasce para uma nova vida, deixa de ser aquela criatura velha, pois o Espírito faz novas todas as coisas (Ap 21, 5). O Espírito Santo anima a vida do monge eremita ou cenobita, é o agente principal da vida do monge. Ele torna sinal vivo da ação do Espírito em meio aos homens. O Espírito une o monge a Deus e aos irmãos da comunidade religiosa de modo especial ao pai espiritual. 4.3. A Palavra: espada do Espírito A Palavra de Deus é considerada a espada do Espírito. Por meio dela cresce em nós uma sensibilidade interior, passamos a valorizar as coisas interiores (Hb 6, 4s). O corpo é templo do Espírito Santo. Somos muito mais que um corpo animado pelo Espírito, somos, pois, um espírito que vive em um corpo. O cristão deve estar mais aberto às coisas do Espírito que as coisas carnais. É preciso deixar as obras da carne e crescer nas coisas de Deus (espirituais). O cristão é chamado a viver numa ascese constante. No início parece ser tarefa quase impossível, mas é necessário perseverança para passar pela “páscoa”, a fim de alcançar a meta desejada. Unidos a Deus Pai por meio de seu Filho Jesus, na potência de seu santo Espírito, nos tornamos um com Ele. Eis a meta final de quem deseja serem homens e mulheres espirituais. A vontade de Deus é nossa santificação, nossa comunhão com Ele. Cristo é modelo para o monge. Como Cristo foge para o deserto e se retira na solidão do deserto (jejum, oração, penitência), o monge dialoga com o Pai e busca energias necessárias para realizar o plano de salvação, mortificação, ascese para chegar a Deus face a face. A Palavra de Deus é como a chuva que cai na terra. Ela não retorna a Ele sem produzir seu fruto (Is 51, 10s). Como semente lançada em nossos corações tem o poder de produzir seu fruto. Esta mesma palavra cai em terreno batido, cheio de pedras ou espinhos, porém o nosso coração deve ser sempre a terra boa que produz muitos frutos (Lc 8, 8.15). Esta mesma Palavra é quem nos instrui a fim de produzir bons frutos (1 Pd 1, 23). O Espírito também pode ser encontrado quando pronunciamos o Nome de Deus. Santificado seja o vosso nome. Ao invocarmos o Senhor estamos nos abrindo ao seu poder, aderindo aos seus ensinamentos e tornando íntimos dele por meio de nossa oração e louvor. Ao invocar o Nome do Senhor abrimos nosso coração ao seu Reino de amor, como também nos esforçamos para fazer a sua vontade. O homem espiritual faz a vontade de Deus, aquilo que lhe dá prazer. “Feliz o homem que na lei do Senhor Deus vai progredindo” (Sl 1, 1). Por outro lado, quem está unido a Deus, acolhe a Igreja, os irmãos e procura desenvolver a arte do serviço, da doação e da partilha. Quem ama o próximo passou da morte para a vida (1Jo 3, 14). Em Cristo podemos dizer que Deus iniciou uma nova criação (Jo 1, 1ss), pois, por meio dele recebemos a graça e a verdade. O Espírito e Cristo, a Palavra e o Espírito estão ligados de modo inseparável. Portanto, acolher o Espírito e acolher a Cristo são sinônimos. A economia do Novo Testamento pode ser definida como um meio para introduzir o cristão no serviço do Pai em espírito e verdade, através de uma comunicação íntima com Ele no Espírito Santo. Cristo é o bom Pastor. Ele dá a vida por suas ovelhas. Ele vai atrás daquele que extraviou e deseja que haja um só rebanho e um só pastor. Ele é a porta das ovelhas, é a luz, o caminho, a verdade, a vida, a ressurreição etc. Nas Sagradas Escrituras encontramos Jesus dialogando com diversos personagens, sendo guia espiritual e modelo para toda humanidade. Zaqueu, a Samaritana, Simão o fariseu, os apóstolos etc. As Palavras de Jesus caíam como um raio na mente e no coração de seus ouvintes. Ele pregava como quem tinha autoridade, pois suas palavras eram carregas de vida. A Palavra de Deus é viva e eficaz é cortante e penetrante como uma espada de dois gumes (Hb 4, 12). No final desta obra serão analisados muitos destes encontros mostrando Jesus como modelo. O caminho espiritual é percorrido seguindo as pegadas do único Mestre. Disse Jesus: “um só é o vosso Mestre” (Mt 23, 8). Toda Igreja é chamada a ser templo do Espírito do Cristo ressuscitado. No pentecoste a Igreja reconhece que o Espírito da verdade foi enviado pelo Pai e por meio de Cristo (Rm 5,5). Ele é a fonte da missão profética, fonte de vida nova (1Cor 15, 45). Por Ele os cristãos tornam testemunhas de Cristo. 4.4. Experiência do deserto O Espírito pode ser encontrado no deserto. O silêncio é uma maneira de nos abrirmos às realidades espirituais. A Igreja, como o Povo de Israel no deserto vive em constante diáspora, isto é, fugindo sempre das coisas do mundo para unir com Deus por meio da oração, como a mulher do Apocalipse. A Igreja depende sempre do Espírito por isso devemos fazer espaço em nós, dedicarmos mais à vida de oração, deserto para sermos possuídos pelo Espírito do Senhor e discernirmos o que é melhor para nossa vida, sempre fazendo aquilo que agrada o nosso Bom Deus. No deserto é provável que passemos por tentações. O próprio Jesus foi tentado, porém estava cheio do Espírito Santo. Sem luta não há vitória. As provações são frutos do pecado. É por meio da oração, contato com o Senhor que seremos capazes de perdoar, adquirirmos força para vencermos o tentador, discernir o que é para o louvor de Deus, o que é bom para nossa Igreja, nossa família e para cada um de nós. Finalmente, como dizia são Francisco de Assis: “é morrendo que se vive para a vida eterna”. O Espírito nos guiará até o fim. Ele nos ajudará a vencer a maior e mais gratificante de todas as batalhas: a morte. Com o Espírito do Senhor temos força para morrermos para este mundo e nascermos para Deus. “Se a grão de trigo não morre, ela permanece só, mas se ela morre, produzirá muitos frutos (Jo 12, 24)”. O pai espiritual ajuda o dirigido a converter seu coração a Deus, a desenvolver uma vida sacramental, fraternidade, vida de oração, viver num diálogo ininterrupto com o Senhor. 4.5. Dinamismo interior O Espírito provoca em nós um dinamismo. Ele movimenta nossas vidas transformando-as de acordo com a vontade de Deus. Trata-se de uma transformação interior a qual damos o nome de conversão. A conversão é um processo que jamais tem fim. Todos os dias somos chamados a morrer para o pecado e renascer para Deus, como também renascer para os nossos irmãos e para nós mesmos, produzindo os bons frutos que o Espírito nos torna capaz. A Palavra que penetra em nossa vida, para produzir fruto, necessita que os dons do Espírito estejam agindo em nós. O Espírito é como a água que faz germinar a semente em nossos corações. Quem é capaz de abrir seu coração ao Espírito reconhece o seu pecado e como que em lágrimas de arrependimento reinicia uma nova vida. O mundo atual não está preparado para esse tipo de comportamento. Por isso, o dinamismo interior, a experiência do Espírito, para ser autêntica deve transformar o coração e a vida do homem dando a ele uma nova consciência. Somente quem faz experiência do Espírito do Senhor renasce para uma nova vida e tem sensibilidade em perceber o que agrada o Senhor e o que não lhe agrada. Quem o experimenta passa a ver as coisas com um novo olhar, o olhar de Deus. O modo de perceber, usar as coisas do mundo e relacionar com as pessoas é diferente (Jo 14, 19). Ouvir é uma das atitudes mais importantes na direção espiritual. De acordo com o monaquismo, a iniciativa era sempre de Deus Pai. Ele falava à consciência e no coração das pessoas, por meio das Escrituras Sagradas (experiência de Deus), vida de oração, diálogo orante etc. Nada antempoe o amor de Cristo (Regra n. 3, 21). Conclusão O Espírito nos faz compreensível, mais humilde e aberto ás coisas espirituais. Quem o experimenta passa a viver de modo simples, porém de modo autêntico. O serviço, a partilha e a vida de simplicidade são próprios daqueles que estão voltados para as coisas do alto. “Buscai as coisas do alto” (Cl 3, 1). O Espírito nos comunica o amor de Deus, transforma nossa vida e nos dá a possibilidade e crescermos em santidade. O Espírito torna possível a arte de relacionarmos com Deus e com o próximo de modo autêntico. Ele nos dá o discernimento para fazer o que agrada a Deus e um dia, para nossa felicidade, estaremos em comunhão definitiva com quem nos amou desde a eternidade e nos ama com amor de Pai misericordioso. 5. O segundo protagonista da Direção espiritual: o dirigido Introdução Aquele que busca orientação em sua vida espiritual é o segundo protagonista. Deus chama, o homem responde. Sua resposta deve ser livre. Portanto, o diretor não pode entusiasmar ou tomar partido, sobretudo quando se trata de uma decisão vital, como escolher um estado de vida. Por outro caminho, todos são chamados a serem santos, a seguirem a Cristo e serem discípulos dele em qualquer estado de vida. A liberdade é o mais forte refrão a ser cantado na direção espiritual. Não se pode aceitar o dirigismo. A santidade é uma proposta. Está no condicional: “se queres ser perfeito” ou se queres ter um tesouro nos céus deve vender todos os bens para alcançar esta graça (Lc 18, 22). A graça de Deus age no ser humano de modo livre. Deus jamais anula nossa liberdade. Portanto, a vocação à santidade é um dom de Deus. Viver em comunhão com Deus em Cristo é uma proposta. Cristo é modelo de homem livre, porém o homem é chamado a dar uma resposta livre. A resposta do dirigido deve ser sempre positiva em relação a Deus. Caso contrário, não crescerá na vida sobrenatural, fruto da ação da graça de Deus em sua vida. O ser humano não nasce completo das mãos de Deus. É uma obra a ser concluída. Por isso ele tem uma missão. Sabemos que a maioria dos animais nasce e não são capazes de sobreviver sem seus genitores. O ser humano também é assim. Ele nasce, depende de seus pais para aprender a difícil arte da sobrevivência e de Deus, sua origem, dependerá de sua graça e de seu infinito amor para crescer como homem espiritual. O dirigido deve conquistar sua independência em relação ao diretor e tornar-se autônomo, sem, contudo, tomar suas decisões contrariando as inspirações do Espírito Santo. O dirigido faz experiência de Deus por meio do próprio Espírito que age em seu interior. 5.1. Vida teologal O processo espiritual deverá levar em conta a vida teologal. Quem deseja crescer na vida espiritual deverá renunciar às afeições desordenadas, aos bens materiais, a sensualidade, o egoísmo para viver plenamente unido a Deus. É um caminho a ser percorrido segundo a vontade de Deus. As virtudes teologais são propostas para todos os batizados. A fé como um dom sobrenatural permite o dirigido lançar seu olhar a Deus e aceitar sua proposta de salvação. A esperança abre novas possibilidades de crescimento, esperando com alegria o dom da vida eterna. E, finalmente a caridade conclui nossos objetivos, fazendo tudo o que agrada a Deus e os irmãos. Quem ama cumpre a lei de Deus e alcança a verdadeira paz. 5.2. Maturidade cristã Reações apressadas devem ser evitadas. A meta é a plenitude da maturidade em Cristo. Ser e agir como filhos de Deus. A consciência sempre lúcida, livre de todo tipo de alienação e condicionamentos psicológicos. Cada escolha deve ser feita de modo consciente e livre, sem nenhuma coação interna ou externa. Portanto, cabe ao diretor ajudar o dirigido em suas convicções pessoais, e não por cego impulso. Cada batizado, com a ajuda de um guia espiritual, saberá acolher renovadas exigências de sua vocação dinâmica. O diretor deverá ajudar o dirigido a se libertar dos condicionamentos interiores e motivações inconscientes, mais ou menos egocêntricas e de impulsos cegos. O dirigido deverá conhecer as necessidades autênticas e os motivos que lhe ajude a caminhar e a conquistar o fim desejado. 5.3. Respeito à individualidade O dirigido deve ser acolhido em sua individualidade, sexo, diversidade sociocultural, aos problemas que o homem de hoje enfrenta, alargando o conhecimento dos valores vocacionais para satisfazer as exigências da vida e da plenitude. A chave do sucesso está justamente no respeito à singularidade de cada dirigido, vivendo em sua época. A pessoa é interlocutora de Deus, chamada a viver constantemente em diálogo com Deus. A resposta deverá ser sempre integral e constante. Deus vai atrás da ovelha perdida. Ele está sempre diante da porta do coração humano, a fim de ser acolhido. Ele pede licença e espera acolhido. A pessoa é chamada a viver a solidariedade, a dizer não a tudo o que divide e impede a união. É chamada a comunhão e, esta por sua vez impele o homem a ir ao encontro do próximo, a fim de servir e amar a todos sem distinção. 5.4. Chamado à comunhão A direção espiritual ajuda as pessoas a fugir do individualismo e a viver em comunhão. O mundo foi criado por Deus. Cada pessoa é chamada a ser luz do mundo, ou seja, nossa missão é cósmica. A história de cada pessoa deve ser vista tendo como ponto de apoio a mensagem do Evangelho que respeita a vida de cada pessoa com seus limites e potencialidades. O diretor deverá estar atento, pois muitas inspirações que o mundo oferece como boas, não estão de acordo com os critérios do evangelho. É preciso levar em consideração a imagem integral da pessoa, como imagem de Deus. Aqui podemos recordar a tríplice relação: Deus, os outros e o mundo (Gn 1, 26 e GS 12). 5.5. Respeito ao tempo Ninguém consegue grandes progressos na direção espiritual em pouco tempo. A vontade do Senhor se manifesta a passos lentos. Devagar e sempre, como uma planta que não é possível ver o seu crescimento. Ninguém é capaz de ser santo da noite para o dia, como também os pequenos vícios é que levam o homem à ruína total. Cabe ao diretor ser flexível, determinado e diplomata em respeita a caminhada do dirigido. Para alguns o ritmo de crescimento é mais acelerado. Conclusão 6. O terceiro protagonista da Direção espiritual: o diretor Introdução O segredo da direção espiritual pode ser conquistado a partir de um estudo aprofundado sobre a vida cristã. É aconselhável que o diretor seja escolhido entre aqueles que têm uma vida de oração intensa e conhecimento da doutrina cristã. Não é conveniente que pessoas mal preparadas assumam tal ministério. Um cego não pode guiar outro cego (Lc 6, 39). Há também o corre o risco da direção espiritual ser espaço onde o autoritarismo-dirigismo ou antiautoritarismo entrar em cena. O diretor espiritual deve aprofundar sua experiência religiosa, como também conhecer métodos eficazes para cumprir bem sua função. Ele deverá saber um pouco mais sobre a espiritualidade cristã, teologia espiritual. Um conhecimento básico sobre os elementos característicos das principais escolas de espiritualidade, conhecimento psicológico básico, discreto conhecimento social. Deve ser homem cheio do Espírito Santo, que desenvolva a cada dia o dom da caridade espiritual, uma boa dose de humildade, prudência e discernimento dos espíritos, enfim, que tenha percorrido os caminhos do Senhor. Se faltares a experiência e a ciência divina, o diretor pode cometer graves erros, atrapalhando o crescimento espiritual do dirigido. 6.1. Identidade do Diretor espiritual 6.1.1. Vida de oração Para ser diretor das almas o caminho certo é dedicar-se à vida de oração. Comunicar a fé exige vida de oração, conhecimento de Deus e de seu plano de amor. O melhor caminho a ser percorrido pelo diretor é aquele invisível que se encontra no interior de seu coração. Não é possível ser um bom diretor espiritual se ele não reserva tempo para estar a sós com Deus. É por meio da oração, contato com a Palavra e acesso aos bons livros de espiritualidade que o diretor será capaz de conduzir o dirigido segundo a vontade do Pai. O diretor espiritual está interessado na pessoa como um todo, mas o foco do seu interesse se fixa na experiência de oração do dirigido. É impossível fazer direção espiritual sem oração. A experiência religiosa é muito mais que certos conhecimentos adquiridos através de livros. Trata-se de um ato vital, uma ação concreta que envolve toda a pessoa. O diretor espiritual deverá ser uma pessoa instruída na palavra de Deus e alguém que reza continuamente, pois ele sabe que o segredo da direção espiritual está em seu testemunho. A oração contemplativa ocupa o espaço principal. A contemplação é uma experiência da transcendência, ou seja, esquecimento de si mesmo, de todos e de tudo o que não seja objeto contemplado. A contemplação leva a uma atitude de reverência e de admiração diante de um objeto. O núcleo contemplativo da oração e de toda a vida cristã é o relacionamento com Deus. A contemplação é algo que vai além das orações formais. 6.1.2. Vida de santidade O foco principal é compreender a situação humana e cristã do dirigido. Cabe ao diretor reunir esforços para levar a pessoa à vida de santidade, descobrindo sua missão na Igreja e no mundo. Em virtude do sacramento do batismo, cada fiel é chamado à maturidade cristã. Cabe ao diretor ajudar a pessoa a crescer como filho de Deus. Esta é a razão maior de toda a direção espiritual. O modelo é perfeito de santidade é Jesus Cristo (Ef 3, 15-19). O projeto de Deus é a santificação (1Ts 4, 3). Cabe ao diretor explicitar, refletir, dando o testemunho de uma vida de santidade, em razão do batismo (LG 40). “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 18; Lv 19,2). A perfeição é um adjetivo de ‘santidade’. “Jesus exorta a uma integridade de vida que se oriente pelo amor que Deus revela”. Existem pessoas que se concentram mais em si mesmas e em seus pecados. “Um homem que se concentra nos próprios erros e pecados pode ser considerado um sujeito sincero e conhecedor de si mesmo, entretanto, nunca será capaz de mudar seu relacionamento com Deus. O remédio é olhar para o Senhor misericordioso. A transformação de uma pessoa depende da capacidade de fazer experiência do perdão de Deus. É preciso olhar além de si mesmo” (a pratica). Para viver a santidade é preciso contemplar a santidade de Deus, pois, contemplar o Senhor nos ajuda a viver a santidade. 6.1.3. Vida motivada Por meio de métodos próprios motiva o dirigido a conhecer e cumprir a vontade de Deus. O diretor é alguém que motiva, aponta caminhos, descobre meios eficazes para de aproximação do dirigido ao seu Senhor. Ele aponta Cristo como modelo e o encoraja a viver unido a ele. (Rm 13, 14). O diretor é alguém que fortalece o diálogo entre Deus e o dirigido. O importante é a experiência religiosa do dirigido com Deus, evitando é claro, todo discurso teórico sobre Deus. Não se trata de uma ideia de Deus, mas de sua pessoa. O diretor deve ser uma pessoa que possui empatia (sentir com). Empatia é entrar na tenda do outro, ou simplesmente ‘entrar’ dentro do sapato do outro (pra ver onde o calo aperta), é ter compaixão, prestar atenção, saber ouvir com disposição, é estar ali por inteiro, atento a cada palavra e cada gesto do dirigido. É diferente de simpatia. A empatia desenvolve um aspecto mais pessoal enquanto que a simpatia está ligada a uma participação emotiva. Empatia é a arte de compreender o outro de forma objetiva. Quando por exemplo, uma pessoa não é compreendida, muitas vezes ela expressa por meio de gestos de descontentamento. Neste caso é necessário perguntar a pessoa o que está por trás daquela reação. 6.1.4. Companheiro de viagem O diretor deve ser instrumento de unidade entre o dirigido e o Senhor. Ele é alguém que facilita e aponta os caminhos seguros para viver unido a Deus Pai, Filho e Espírito Santo. O diretor pode ser um pai espiritual, um companheiro de viagem. Mas, cuidado para não cair no paternalismo. Ser pai espiritual é sempre secundário. Portanto, o Pai é sempre Deus e o filho, o dirigido. Segundo H. Nouwen, o diretor espiritual é “alguém que conversa e reza com você sobre sua vida. A sabedoria e a orientação emergem do diálogo espiritual e do relacionamento entre duas ou mais pessoas de fé comprometidas a viver uma vida espiritual”. Segundo W. Barry e W. Connelly as exigências por parte do diretor são: a) ter experiência do amor salvífico e da presença de Deus; b) ter uma fé profunda no desejo e capacidade de Deus de comunicar-se com o seu povo; c) desejo de conhecer os caminhos de Deus para todos os tipos de pessoas; d) saber mais sobre ele e espera aprender mais sobre ele ouvindo a experiência de outras pessoas. e) saber ouvir é uma qualidade nobre do Diretor Espiritual. 6.1.5. Vida trinitária Alguém capaz de nutrir cotidianamente da Palavra de Deus. É dela que o diretor encontra inspiração para exercer com autenticidade a direção espiritual. Por meio da Palavra do Pai e seu Santo Espírito o diretor adquire experiência para exercer com autenticidade a direção espiritual. O diretor deve saber e mostrar os caminhos das pedras, a fim de que os objetivos sejam alcançados. No centro de sua vida, como a de seus dirigidos está Deus. Ele é convidado a buscar o amor de Deus e ensinar o dirigido a acreditar neste mesmo amor, a fim de crescer sempre na amizade com Deus, Uno e Trino. O Espírito Santo é o mestre da vida interior e mestre da comunicação. Ele é fonte de vida de perfeição (1Cor 14, 1). Ungido pelo Espírito Santo o Diretor torna capaz desta grande missão. Ele edifica a pessoa do dirigido segundo os desígnios do Pai. Por meio da oração o diretor procura viver uma vida de santidade. Ao encontrar o Senhor e sendo fiel aos seus ensinamentos, procura também conhecer novas técnicas e métodos que torna possível esta missão. Segundo W. Barry e W. Connolly a direção espiritual a questão fundamental é: Qual é a definição de Deus que eu tenho e quem sou eu para Deus? A ideia que eu tenho de Deus é importante. Mas, a experiência é fundamental e decisiva. Por outro lado, o conhecimento de si mesmo implica uma forte ligação com Deus, o Autor da Vida O relacionamento com Deus implica experiência do amor de Deus. Quanto mais se conhece a Deus, mais aumenta o desejo de amá-lo, e quanto mais ama a Deus, mais cresce o amor por Ele. 6.1.6. O diretor como diácono do Espírito Mauricio Costa adverte; “Aquele que é denominado “diretor” não passa de um simples diácono do Espírito Santo. Em vista de um bem comum, o diretor deve fugir do perigo de ser autoritário, pois o dirigido deve obedecer a Deus e o seu Santo Espírito”. Atentos à inspiração do Espírito, o diretor descobre e ajuda o dirigido a conhecer a vontade de Deus. O Espírito Santo tem a missão de nos comunicar o que causa prazer e o que provoca desprazer ao nosso Deus. A tarefa do diretor é deixar o Espírito Santo guiar o dirigido. É o Espírito Santo quem instruirá o dirigido a tomar decisões. Juntamente com o diretor, deve estar atento para não ser enganado por falsas divindades. O diretor é apenas um sinal. Ele é sacramento da relação entre o dirigido e seu Senhor. Pode ser impossível uma independência total do dirigido em relação ao diretor, porém, há muitos casos de dependência que se enquadra em transferências que impede o crescimento espiritual do dirigido. Tais preocupações serão tratadas num capítulo à parte. 6.1.7. Fazer a vontade de Deus Pai O Povo de Israel era convicto de que a observância aos mandamentos do Senhor apressava o cumprimento de suas promessas (1Rs 6, 12). O cumprimento da Aliança com Deus traz fartura, paz e posse da Terra prometida (Dt 11, 1ss). Abraão andou seguiu os imperativos do Senhor e tornou-se um homem íntegro e fiel (Gn 17, 1). No livro das Crônicas o autor destaca que é preciso fazer a vontade de Deus (1Cr 19, 13). Na renovação da aliança com o Senhor, depois da reconstrução do Templo, Esdras propõe a todos colocar em prática a vontade do Senhor (Es 10,11). A vontade de Deus é mais importante que o ouro e a prata (Nn 24, 13). Colocar em prática a vontade do Senhor é promessa de libertação contra todo o tipo de mal e certeza de conquistar a Terra prometida (Sl 37,34). A alegria está no coração de quem coloco em prática a vontade de Deus. A vontade de Deus é condição para conquistar o Reino de Deus e entrar no paraíso (Mt 7, 21). Se praticamos a vontade de Deus, somos de sua família (Mc 3, 35). Deus ouve as preces daqueles que colocam em prática seus mandamentos (Jo Jo 9, 31). Por meio do Espírito Santo descobriremos a vontade do Pai (Rm 8, 27). Conhecer a vontade do Senhor é missão de todos (Ef 5, 17), a fim de sermos santificados e libertados de toda imoralidade (1Ts 4,3), para agradecer a Deus a todo o momento (1Ts 5,18), para crescermos na vida em plenitude (2Tm 1,1), para praticar o bem em meio às provações (1Pd 3, 17), para viver unido a Deus, tendo como garantia os prêmios da vida eterna (1Jo 2,17). Assim como Cristo foi obediente ao Pai a ponto de dar a vida pela humanidade. Na Santa Ceia lavou os pés dos discípulos e lhes disse: “dei-vos o exemplo para que, assim como eu vos fiz, assim façais também vós” (Jo 13, 15). Na oração do Pai nosso nos ensinou: “seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6, 10). O seu alimento era fazer a vontade do Pai (Jo 4, 34). Ele foi enviado, justamente para isso (Jo 6, 38). Adão foi desobediente, e por causa de sua ação trouxe para a humanidade a morte e a condenação. Cristo é o Nova Adão. Por meio de sua obediência todos se tornarão justos (Rm 5, 19). Charles Bernard afirma que a direção espiritual tem como meta a plenitude da vida cristã. E para descobrir o modo para vivê-la é necessário conhecer a vontade de Deus. Não há muito progresso na Direção quando o diretor ainda não está comprometido com uma vida espiritual estável, equilibrada e autêntica, segundo a vontade de Deus. A conversão a Deus e o compromisso com o seu Reino de amor é o objetivo principal da direção espiritual. Conhecer a vontade de Deus e colocá-la em prática não é tarefa fácil. Tal processo é lento e fadigoso. O dirigido deve enfrentar períodos de aridez, deserto e noites escuras. Entre o querer e fazer a vontade de Deus está a “obediência”. Disse Jesus: “Se alguém me ama guardará minha palavra, e meu pai o amará, e viremos para ele e nele faremos morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do pai, que me enviou” (Jo 14, 23s). A vontade de Deus é que sejamos obedientes aos seus mandamentos. O que conta é o “modo” de como vivemos, resolvemos nossos problemas, enfrentamos nossos desafios etc. Não se trata de uma obediência cega e irresponsável, como se fizéssemos a vontade de Deus sem espírito crítico, prontidão e serviço à sociedade e à família. Trata-se de um programa de vida que envolve liberdade, doação, empenho constante e equilíbrio. 6.1.8. Discípulo e missionário de Jesus Cristo A vida cristã tem como vértice a plena conformação de nossa vida a Cristo. Conhecer a forma histórica da vida de Jesus e vivê-la como a única coisa necessária de nossa vida é a missão de todos. Por isso, a Palavra de Deus, os ensinamentos de Cristo são sempre prioridades. Cabe ao diretor apresentar Cristo ao dirigido e motivá-lo a crescer sempre mais na amizade com o Redentor e Modelo por excelência. O próprio Jesus é modelo de oração. Sem oração torna-se impossível produzir bons frutos nesta área. Jesus é Modelo por excelência de comunicação da fé. Nos Exercícios Espirituais se aprende a meditar toda a vida do Mestre e, por meio da oração, descobrimos o modo de vivermos unidos a Cristo. O Espírito nos recorda, ensina, torna clara a missão de configurar nossa vida a Cristo e continuarmos sua missão. O egocentrismo é uma grande tentação a ser evitado. No centro está o Senhor. A direção não é para quem deseja ser grande, correndo o risco de ocupar o lugar de Deus. Para ser discípulo de Cristo é preciso aprender a arte da abnegação. Para segui-lo é preciso renunciar a muitas coisas, sobretudo aquilo que atrapalha ou signifique obstáculo. De modo espontâneo a pessoa diz não a tudo o que não se encaixe com a missão de ser discípulo do Mestre dos mestres. Numa escala de valores, os bens materiais, o apego aos familiares e até o apego a si mesmo são menos importantes e muitas vezes obstáculos ao discipulado (Lc 14, 33). O amor de Deus é o primeiro de todos os mandamentos. Portanto, para ser um bom diretor espiritual deve assumir a tempo integral este ministério fazendo da vida um laboratório vivo de discernimento daquilo que é a vontade de Deus para o bem da Igreja e de todos os seus dirigidos. 6.1.9. Equilíbrio psicológico O diretor deverá ter respeito à consciência do outro, discrição, prudência e capacidade de ajudar o outro como verdadeiro irmão. Por isso, exige da parte dele equilíbrio. Segundo Benito Goya, é necessário também uma autêntica dignidade humana. Aceitação de si mesmo, consciência de ser alguém dono de si mesmo, livre de certos condicionamentos e com certo grau de maturidade psicológica. Sinceridade é também uma qualidade essencial. Deve ser uma pessoa capaz de sair de si mesma, que tenha superado qualquer tipo de narcisismo e que seja capaz de fazer de sua vida um dom para os irmãos. O diretor deve ter um amor desinteressado pelo outro. Ele não está a fim de buscar compensações no outro. Deseja apenas servir o dirigido com responsabilidade, domínio de si, livre de qualquer tipo de arbitrariedade. O autor ainda enumera outras qualidades do diretor: ser alguém que não deixa ser enganado por pessoas imaturas, que tenha equilíbrio e tolerância às frustrações, que seja perseverante, capaz de comunicar não apenas com a boca, mas com gestos, estima de si mesmo com uma visão positiva dos próprios talentos e qualidades, percepção objetiva do outro, disposição espiritual, ou seja, abertura ao Espírito Santo, sabedoria espiritual, virtude da prudência, dom do conselho à luz da Palavra de Deus, capaz de amar como Jesus amou (cf. Jo 13, 15). O diretor deve ter confiança na pessoa a ser atendida e capaz de desenvolver uma vida de santidade. Se o diretor não acredita que o dirigido atingirá a maturidade é um péssimo sinal. Da parte do diretor, a sinceridade e a transparência são pérolas preciosas que não podem faltar. O diretor deve ter maturidade afetiva, desapego de si mesmo e consciência que está a serviço dos irmãos. É necessário que tal ministério seja exercido com amor e generosidade. Não se pode medir por meio de cálculos o que se ganha na direção espiritual. A direção espiritual é um serviço ao reino do outro, por isso deve estabelecer um relacionamento amigável e fraterno. Dificilmente alguém com problemas psicológicos crônicos será capaz de ajudar o seu irmão. O caráter é fundamental. Cada um tem sua história. Não podemos julgar ninguém, porém o diretor deve formar seu caráter na grande escola da vida, tendo como fonte principal a Sagrada Escritura. “A verdade em que você acredita determina o seu caráter” (Arnaldo Jabor). A Brandura é uma virtude daqueles que não se deixam levar pelos desafios da vida. A serenidade, a responsabilidade, a ternura são virtudes a serem cultivados por quem deseja atingir certo grau de maturidade cristã. O equilíbrio psicológico é condição fundamental na vida do diretor. Ele deve ser dono de sua vida, livre, seguro de si, de seus afetos para não buscar falsas compensações de ordem inconsciente, mesmo que seja com boas intenções. O diretor deve ter consciência como a de um bancário que trabalha no caixa. Ele sabe que todo aquele dinheiro é instrumento de seu trabalho, mas não lhe pertence. Na direção espiritual o diretor deve ajudar o dirigido a viver sua vida sem ao menos exigir qualquer agrado. Os frutos da direção estão num plano espiritual e a recompensa do diretor é a alegria interior de ter ajudado alguém progredir na vida espiritual. Como o diretor pode ter acesso a pessoas imaturas, ainda no início do processo de transformação, o equilíbrio é condição irrenunciável. Ele deve ser tolerante às frustrações. Muitas vezes pensamos que as pessoas deram alguns passos para frente. E quando percebermos o contrário, imaginamos que o nosso trabalho foi em vão. Outra disposição de base é a capacidade de comunicação e sincero diálogo. Clareza na hora de expor o seu ponto de vista, interrogar o dirigido no momento certo e saber ouvir, compreender o dirigido. A estima de si ajuda o diretor a comunicar bem, pois se o diretor não tem autoestima, dificilmente compreenderá o dirigido. Dois sacos vazios não ficam de pé. 7. Missão do diretor espiritual Segundo W. Barry e W. Connolly o diretor deve fortalecer o diálogo entre o dirigido e o Senhor, trabalhar com os conceitos “relacionamento com Deus e experiência religiosa” e não cair no abstrato Não podemos trabalhar com a ideia que temos de Deus. Trata-se de uma missão a serviço do Deus verdadeiro, criador do mundo, que nos revelou sua face por meio de Cristo, tornando acessível a todos por meio de seu Santo Espírito. Segundo Mendizábal, a missão do diretor é levar o dirigido a uma teonomia, ou seja, Deus agindo em sua vida. Outra missão é ter conhecimento dos valores. O conhecimento dos valores é muito importante, pois a partir da oração e da vida de santidade o diretor procura colocar na ordem o que melhor ajusta na vida do dirigido. Cada pessoa é convidada a produzir em sua vida os frutos que mais necessitam ou que se adaptam à sua vida. Entre eles, o diretor deve incentivar o dirigido a desenvolver a gratidão, a sabedoria, o otimismo, a prudência, a lealdade, a compreensão, a sensibilidade, o perdão, a serenidade, a dedicação e a fraternidade. A missão do diretor é ajudar o dirigido a produzir em sua vida os frutos do Espírito Santo: o amor, a paz, a bondade, a alegria etc (Gl 5, 22-23). A experiência de Deus e a vida de oração são fundamentais na vida e na missão do diretor. A missão é condicionada à vida do dirigido. Se ele é íntimo de Deus, então conhece bem as vias de acesso. Poderá sem muito esforço ajudar o dirigido. Mas, se falta experiência religiosa logo aparecerão as rachaduras. O diretor é colaborador do Espírito Santo. Portanto sua nobre missão é conhecer os caminhos do Espírito para cumprir bem seu ministério. Por meio da meditação frequente da Palavra de Deus o diretor adquire a experiência para levar o dirigido a cumprir seus ideais. A Palavra de Deus apresenta os critérios autênticos da direção espiritual. A luz da fé saberá indicar o caminho a ser percorrido porque ele o conhece muito bem. A direção é um ministério que ajuda o irmão a caminhar nas vias do Senhor. É uma prova de amor tornar-se catequista, sacerdote, religioso (a) ou diretor, capaz de ajudar o irmão sem querer nada em troca (Jo 13, 15). Jesus veio não para ser servido, mas para servir (Mt 20, 28). Aquele que deseja ser o primeiro de todos, seja o que serve a todos (Mc 10, 43). A direção espiritual é um serviço missionário que transforma a vida das pessoas por meio do diálogo com Deus. É o Senhor quem transforma. O dirigido faz apenas a sua parte, confiando que o Senhor fará a dele. Conclusão O diretor espiritual deve ser alguém íntimo do Senhor. A oração é o meio eficaz de alcançarmos a santidade. O entusiasmo não pode faltar na vida de quem deseja motivar e orientar uma pessoa a crescer na amizade com o Senhor. Através do acompanhamento espiritual, o dirigido é chamado a fazer a vontade do Pai, tendo Cristo como modelo e o Espírito como guia. Mas, se o diretor não for homem de uma peça única, ou seja, equilibrado em todas as áreas de sua vida, sobretudo emocional e religiosa, não poderá produzir bons frutos. Sua missão depende da experiência religiosa e de certo grau de maturidade psicológica. Quem vive em comunhão com o Senhor por meio da oração, escuta da Palavra e vida sacramental poderá ser um companheiro de viagem na vida de seus dirigidos. Ele será capaz de fortalecer o diálogo entre o dirigido e o Senhor, motivando-o a cumprir a sua santa vontade. 8. Quais são as metas a serem alcançadas na Direção Espiritual? Introdução A direção espiritual é um ministério a ser exercido por amor. Amar e servir a Deus e aos irmãos agrada a todos. A maturidade cristã deve ser alcançada por meio do diálogo constante com o Senhor. É por meio da oração que o dirigido descobre sua identidade e sua missão. Os objetivos mais importantes são: a mudança de vida, a conquista de estilo que esteja de acordo com a Palavra de Deus e a viver a santidade como um dom de Deus. A direção espiritual oferece a todos oportunidades de conhecer melhor os caminhos do Senhor, libertando de tudo o que vai contra o projeto de Deus. A proposta está centralizada na pessoa do dirigido, respeitando sua liberdade. A direção espiritual é uma oportunidade de reflexão constante em torno do sentido de nossa existência. A percepção é muito importante na vida de uma pessoa. Uma das metas essências da direção é experiência de Deus. Por meio da percepção do mundo interior, ação do Espírito Santo o dirigido descobre a vontade de Deus e a realização de si mesmo. Em outras palavras, o homem torna aquilo que ele é. Tudo o que constitui uma ameaça é sempre descartado. A autonomia tem significado de maturidade. Ser autônomo na escolha, nas metas e nos meios para conquistar os objetivos é objetivo de todos. Evitar certos condicionamentos e ser dono de seu próprio nariz, eis a regra de ouro. Autotranscendência: o homem se realiza saindo de si mesmo, libertando-se do egoísmo. O homem depende de Deus. Quem não é capaz de renunciar a si mesmo, não pode ser discípulo de Cristo (Mt 10,39). 8.1. Plenitude da vida cristã: amar e servir A direção espiritual tem como meta a santidade de vida ou a plenitude da vida cristã. Quando Jesus estava para entregar sua vida por nós, pouco antes de enfrentar todo processo condenatório, nos deixou um testamento. “Eis que eu vou dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”. Já havia ensinado os discípulos a servir uns aos outros por meio do sinal do lava-pés e os instruiu que o maior é aquele que serve. Na cruz, perdoou aqueles que o havia crucificado para nos dar a garantia de que o poder, o domínio sobre os outros não poderia ser exercido a não ser por meio da caridade, do serviço humilde e da comunhão fraterna. Jesus é o modelo no qual todos cristão deve imitá-lo. 8.2. Tudo para a maior glória de Deus Frei Patrício, um frade carmelita disse que devemos fazer tudo para a glória de Deus, para o bem da Igreja e para o nosso próprio bem. Nesse sentido acrescento a capacidade de perceber os horrores de que o pecado, as seduções do mundo e o mistério da iniquidade devem ser derrotados, a fim de que a pessoa tenha a disposição de renascer para Deus e morrer para o mundo, para si mesmo, para toda obra que vai contra o Plano de Deus. Por isso, quando se vive para Deus, realizando tudo para a “maior glória de Deus” (Santo Inácio), a Direção produzirá frutos abundantes. 8.3. Maturidade cristã A maturidade é o objetivo principal de todo o diálogo entre o dirigido e diretor. Tudo deve acontecer num clima de confiança, respeito, sobretudo em relação à liberdade de cada pessoa. No final, todos saem ganhando, pois quem ajuda o irmão a crescer na vida espiritual também receberá sua recompensa. A ciência psicológica tem um papel importante na direção espiritual. Embora o diretor espiritual tenha como foco a presença de Deus, por meio do Espírito Santo, deverá ter uma formação básica de psicologia. A Programação Neuro Linguística e a psicologia transpessoal podem nos ajudar na arte da direção espiritual. 8.4. Busca de um sentido para a vida Nossa identidade é sempre condicionada pelo ambiente, pelas decisões tomadas a todo o momento. Cabe aos diretores e dirigidos conhecer o caminho que os conduz à plena maturidade e às decisões mais suculentas, que transforma a vida e dá sentido novo a existência de cada um. 8.5. Melhor a qualidade de nossa oração A meta da direção é a formação espiritual. Trata-se de uma tarefa árdua que exige disciplina, prática e responsabilidade. Segundo Nouwen, é necessário voltar ao coração. A disciplina do coração ajuda o dirigido encontrar Deus. O caminho espiritual é o caminho de oração. “Rezar não é apenas ouvir o coração, mas ouvir com o coração. A oração nos ajuda a estar na presença de Deus com tudo o que temos e somos: nossos medos e ansiedades; nossa culpa e vergonha; nossas fantasias sexuais; nossa ambição e ira; nossas alegrias e inimigos – em suma, tudo o que nos caracteriza”. 8.6. Cumprir a vontade de Deus O objetivo principal da direção é cumprir a vontade de Deus. Somos chamados a amar a Deus e ao próximo (Lc 10, 27). Nouwen insiste em outro ponto: Volte-se para Deus na Bíblia. A disciplina da Bíblia é a disciplina de leitura devocional e meditação sobre um texto sagrado que levam à oração. Meditação significa deixar a palavra descer da nossa mente ao nosso coração e assim se encarnar. Meditação é a disciplina pela qual deixamos a palavra de Deus tornar-se uma palavra para nós e ancorar-se no centro do nosso ser, assim como na fonte das nossas ações. Meditação é a contínua encarnação de Deus em nosso mundo. 8.7. Discernimento espiritual “A meta é ajudar o dirigido a discernir como o Espírito Santo está conduzindo-o pessoalmente, reconhecendo que Deus tem um plano especial e particular para a vida de cada pessoa e todo o mundo não é chamado do mesmo modo. Há muitos membros do corpo. Todos eles são necessários e importantes.” Cada um tem sua vocação e é chamado a exercê-la em benefício de todo o corpo eclesial. O discernimento é um dom de Deus conquistado por poucas pessoas. São Paulo fala de discernimento dos espíritos (1Cor 12,10). Trata-se de conhecer a ação de Deus como também do inimigo maligno (Ef 6, 12; Hb 5, 13s). O homem espiritual julga todas as coisas segundo o Espírito de Deus (1Cor 2,15). Para melhor compreendermos o que significa o discernimento espiritual, será dedicado um capitulo a parte no final desta obra. 8.8. Unificação da vida Outra meta importante é a unificação da vida. Segundo Goya o objetivo da direção é alcançar a harmonia entre todos os recursos, dons, talentos, capacidade que o dirigido desenvolve. A unidade é fruto de uma síntese dos valores espirituais que tem como ponto de lança as orientações contidas no Evangelho. Trata-se de uma vida teologal, que envolve toda a dimensão humana, afeição, emoção, inteligência, vontade, oblação. Envolve a participação da pessoa na sociedade, no campo econômico, social e político, mas acima de tudo no campo religioso. Conclusão Jesus Cristo não veio para ser servido, mas para servir (Mc 10, 45). São Paulo nos ensina que a plenitude da lei é o amor (Rm 13, 10). Portanto, cabe ao cristão compreender que a vida de santidade está ligada ao serviço. Amar a Deus e ao próximo é a única coisa necessária, o assunto mais elementar a ser partilhado na direção espiritual. Por meio da direção espiritual, temos a certeza de que Jesus se faz presente quando nos reunimos em seu nome. (Mt 18, 20). A presença de Cristo pode ser sentida, acolhida, celebrada, todos os dias de nossa vida. Cristo está sempre enviando o seu Santo Espírito para todos da comunidade que se unem em seu amor. Unidos a Cristo viveremos em comunhão com o Pai. Quem está unido com Deus já atingiu o ideal principal de sua vida. 8. O Discernimento espiritual O discernimento está ligado à vontade de Deus. Nossa história pessoal está marcada pela presença de Deus em nossa vida. Ele é quem nos instrui no caminho da santidade. Portanto, cabe ao diretor apresentar alguns critérios importantes para que o dirigido possa compreender a vontade de Deus, sobretudo à luz dos ensinamentos de Cristo e de seu Evangelho. O cristão vive no mundo, mas não pode ser mundano. Em todo o Novo Testamento encontramos ensinamentos que nos ajuda a discernir a vontade de Deus e a agir de acordo com Ele. São Paulo nos alerta que todas as coisas devem ser submetidas a um exame criterioso (1Ts 5, 21). De fato, nem tudo convém ao cristão. As intenções, motivações e condutas deverão ser refletidas à luz da fé da mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo. A todo o momento estamos diante de várias opções. São Paulo afirma: “Eu vos exorto irmãos, pela misericórdia de Deus a oferecer vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: é este o vosso culto agradável a Deus. Não vos conformeis com o espírito deste mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que passais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito” (Rm 12, 1-2). Na direção espiritual aprendemos o que é a vontade de Deus. Quando alguém ama de verdade, faz somente o que agrada a pessoa amada. O cristão é convidado a progredir na experiência de Deus e a fazer aquilo que agrada a Deus. Os critérios básicos são: purificar-se de todo egoísmo e ser instruído por seu Santo Espírito. Aquele que é tocado pelo Espírito do Senhor discerne o que é bom e descarta tudo o que vai contra Deus e seu projeto de amor. O discernimento é sempre um exercício em torno de uma decisão a ser tomada, uma atitude a ser concretizada. E quando atingimos certo grau de maturidade espiritual não apenas desviamos dos maus caminhos como também aprendemos a escolher sempre o que mais agrada ao Senhor. O discernimento é conhecimento íntimo da obra de Deus no coração dos homens, dom do Espírito Santo e fruto de amor (Ritual da Penitência n. 10). A ação do Espírito Santo na vida do dirigido nem sempre é percebida, pois ele mesmo pode estar sendo condicionado por algum tipo de automatismo ou certas inclinações. Pode também enfrentar mecanismos de defesa não sendo capaz de tomar a decisão certa, na hora certa. O comportamento pode excluir as verdadeiras razões, não assegurando a liberdade, pois pode ter motivos inconscientes. O dirigido corre o perigo em buscar satisfação pessoal, apenas por prazer e interesse que não será o melhor caminho. Poderá ser enganada pelo tentador, por suas próprias paixões ou por certas pressões sociais e culturais. Alguns autores falam do bom espírito e do mau espírito. O bom espírito age sob o influxo de forças positivas que vem de Deus e dos irmãos. O mau espírito vem do demônio e do pecado que reina no coração do homem e do mundo. Há algumas moções humanas que são boas, porém existem as más. Nem toda ação humana é boa. É preciso conhecer as regras do discernimento. A ação do Espírito, força sobrenatural produz bons frutos. Mas, somente produzirá com a colaboração humana. Deus respeita a consciência, a liberdade e a responsabilidade de cada um. Já ação do mau espírito produz frutos maus. É uma força que se opõe a salvação e a santificação dos homens e que inclina ao pecado e ao afastamento de Deus. No início, o mau vem disfarçado de bem, mas depois afasta a pessoa da oração e do próprio Deus. Ele é o Pai da mentira (Jo 8, 24). Sua estratégia é distorcer a mensagem de Deus, espalhando todo o tipo de confusão mental. O demônio atrapalha, dificulta, reduz nossa velocidade até chegar perto de Deus. Ele nos distancia de seu amor e nos confunde. Mostra os atalhos da vida com promessas bem mais atraentes das que conhecemos por meio da Palavra de Deus. O demônio usa das coisas criadas. Ele não cria nada. Ele usa as pessoas, uma leitura, interesses naturais que você goste etc. Ele sabe quais são seus pontos fracos. Ele deseja que você encontre o paraíso aqui na terra. São Paulo nos exorta: “Revesti-vos da armadura de Deus, para poder resistir as ciladas do demônio” (Ef 6, 10). Existem pessoas que são atraídas pelo impulso sexual ou paixões desordenadas, a vida afetiva não retamente canalizada; busca de si mesmo de modo egoísta, vaidades, prestígios, poder etc. Às vezes a pessoa é fortemente atraída por dons extraordinários e sobrenaturais. Estes podem ter como causa uma base fisiológica, afetiva, psicológica ou parapsicológica. Certas experiências emocionais, que provocam alegria ou tristeza pode ter como causas algo natural. Certas ansiedades, tristeza, melancolia pode ser sinais de fuga. Até mesmo certas visões, êxtases, locuções interiores são frutos da fraqueza humana, cansaço mental, de uma imaginação muito viva, de uma necessidade de segurança, de certas predisposições parapsicológicas. O diretor deve compreender quais são as intenções verdadeiras e as motivações do dirigido. Se o diretor conhece o projeto de Deus, poderá ajudar o dirigido a descobrir os meios mais adequados, superando todos os obstáculos, a fim de conquistar tais objetivos. Cabe a ele crescer na prudência e no conselho, pesquisando e orando continuamente ao Senhor para que permita o desenvolvimento deste grande dom. Critérios para o discernimento Em primeiro lugar nenhuma orientação pode contradizer o Evangelho. “Dos frutos os conhecereis... toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz frutos maus... (Mt 7, 15-20). Outro princípio importante: bonum ex integra causa, malum ex qualunque defectu. Quando encontramos uma pessoa virtuosa e com sinais do bom espírito, então podemos dizer que ela está no caminho certo. Mas, atenção! Não basta apenas algumas virtudes heroicas. O que conta é o desenvolvimento harmonioso de todo o organismo espiritual. Se está presente um sinal do espírito mal ou a ausência de alguma virtude, pode-se duvidar da veracidade de tal discernimento. Uma pessoa pode ter boas inspirações, mas nem tudo vem de Deus. As motivações podem ter como raízes reações psicológicas, sentimentos ou pensamentos contrários à vontade de Deus. E mesmo se as ações são boas elas podem cair no orgulho e na autossuficiência. Para não cair no erro, na hora de tomar uma decisão, consulte o Espírito Santo na oração. Veja se está de acordo com o que diz a Palavra de Deus, sobretudo os ensinamentos de Cristo e da Igreja. Muitas pessoas, com boas intenções, desperdiçaram energias, achavam que estavam construindo impérios para a humanidade e para a Igreja, mas se equivocaram e se distanciaram do projeto de Deus. Sinais do espírito divino O critério universal se inspira na vida trinitária. Tudo o que promove a unidade vem de Deus. O que realizamos deve estar em sintonia com o Criador. Por ser imagem do Criador, o homem é convidado a se comportar segundo sua própria identidade. O amor é uma forma de conhecimento da verdade. Se o que realizamos é por amor, com certeza jamais erraremos em nossas decisões. Deus não se contradiz em suas obras. A revelação testemunha a verdade de Deus ao longo da história e Cristo é a revelação plena do Pai. Se alguém não reconhece esta verdade não é de Deus (1Jo 4, 2-3). A comunhão com o Filho e com seus ensinamentos são critérios de comportamento. O amor é o maior de todos os critérios (Jo 13, 35). Este mesmo amor é endereçado à partilha dos bens, construção do reino e tudo o que ajuda o homem a viver unido ao Pai. Viver este amor é ser Igreja verdadeira, comunidade dos que buscam o evangelho como critério de vida. A interpretação das Escrituras, de modo criterioso, já é um exercício que envolve a mente, o coração, a vontade, a alma e o espírito. Por isso a fidelidade a Cristo e à Igreja são normas irrenunciáveis na vida cristã. Caminhar na verdade exige humildade. Cabe ao homem aproximar de Deus reconhecendo suas limitações e dependência em relação a ele. Ser humilde significa viver de acordo com a verdade que somos: criaturas amadas por Deus, porém seguindo os passos de Jesus, nosso irmão, e abertos ao espírito da verdade desenvolveremos o dom do discernimento e faremos tudo e somente aquilo que nos ajuda a viver na verdade e no amor de Deus. O diretor deve ajudar o dirigido a abrir seu coração de modo espontâneo a Deus, deixando que a luz da graça divina o ilumine, a fim de crescer na vida espiritual. Transparência e sinceridade são condições importantes para que seus pensamentos, palavras e atitudes sejam edificantes. Fé e obediência ao Senhor são elementos chaves no crescimento espiritual. Docilidade em relação à Palavra, saber ouvir e colocar em prática a vontade de Deus é o objetivo de toda a vida cristã. Quem obedece a Deus, não erra. A obediência a Deus gera novas virtudes, sobretudo a virtude da humildade, a segurança, a fé contra todo o tipo de mal. Quem é desobediente é alvo de enganos, sobretudo da ação do espírito maligno. As coisas podem piorar sempre mais. A verdade nos distancia dos vícios e das ciladas do inimigo. Se somos passivos em relação às regras básicas da vida cristã, tais como a fidelidade aos compromissos, justiça em relação a todos podemos ser alvo de uma série erros. Quem segue a todo o custo a vontade de Deus está livre de muitos enganos. Erra menos aqueles que são obedientes aos seus superiores, sobretudo aos ministros por ele enviados. Outras atitudes importantes para termos um bom discernimento são: a discrição e moderação. São elas que geram, protegem e dão vida a outras virtudes (Cassiano). Elas eliminam certos exageros e mostra a medida certa para todo o agir humano. Elas estão ligadas à virtude da prudência. Tudo o que é “demais” ou “de menos” pode trazer consequências negativas. A virtude está no meio. Alguém que passa o dia todo rezando numa igreja pode estar sendo infiel à missão junto a sua família. Do mesmo modo para quem fica o tempo todo numa mesa de bar. Mas, também peca aquele que trabalha demais e não tem tempo para Deus, nem mesmo para rezar em casa. O bom senso é sempre um valor a ser conquistado. Quando tomamos uma decisão, antes de efetuá-la, devemos observar se em nosso coração experimentamos uma paz duradoura, aquela que vem de Deus. A serenidade e a paz são sinais do bom espírito que nos ajuda a tomar decisões certas na hora certa. Quando há presença do mau espírito surgem dúvidas, angústias, tristezas, inquietações e todo tipo de tensões. É valido lembrar que mesmo as atitudes a serem efetuadas sejam mais carregadas de espinhos, se acaso elas veem acompanhadas do bom espírito é esta a ser escolhida. Nem sempre o que dá mais prazer e o que é mais fácil vem de Deus. Colocar em prática a vontade do Pai é sempre um grande desafio. Portanto, estejamos atentos, pois Deus não nos abandona quando somos fieis ao seu projeto, mesmo que tenhamos que renunciar a uma montanha de bens e possibilidades. Comportar segundo a carne é deixar de lado todos esses critérios anteriormente apresentados. Vale a pena crescer no amor de Deus e ser obediente aos seus ensinamentos. Sinais do espírito mau O pai da mentira é o demônio (Jo 8, 44). Sua obra é induzir as pessoas ao pecado, ao afastamento de Deus e ao espírito da falsidade. Sua estratégia consiste em distorcer a verdade, desconfiar de Deus e de seu projeto. Ele provoca confusão em relação às iniciativas divinas e às obras apostólicas. Ele confunde os que desejam aceitar os dogmas de fé e interpreta a Palavra de Deus segundo opiniões erradas cheias de enganos. Este comportamento dificulta o dirigido construir sua identidade cristã e o torna cada vez mais resistente em relação ao diretor, seguindo apenas o que ele acha que é o certo (risco do subjetivismo). Outro grande erro é cair na autossuficiência, no orgulho e na soberba. Quando alguém deseja fazer tudo sozinho, sem a ajuda dos outros é um grande risco. O isolamento dos companheiros que seguem o mesmo caminho não é um bom sinal, mas também tal comportamento significa fechamento a si mesmo e ao projeto de Deus. O autossuficiente não percebe que ele está no centro, mais cedo ou mais tarde vê que os frutos não aparecem e quando acorda pode ser tarde demais. O ódio, a incapacidade de perdoar, as reclamações que não param, manter as aparências, a hipocrisia são atitudes muito comuns na pessoa soberba. Quando não se tem abertura ao Espírito Santo é fácil não ouvir os superiores, mudar de confessor e diretor até que encontre algum que lhe dá razão em tudo. Isso seria um grande desastre, pois o problema não está nos diretores, mas em si mesmo. O diretor deve ajudá-lo com paciência. Quem se deixa levar por sua própria lógica está sempre inquieto, insaciável, porém não consegue compreender a si mesmo e suas próprias reações. Justifica seus exageros e não dá o braço a torcer a não com muita dificuldade e reclamações. O diabo é chamado o adversário, o acusador, o caluniador, o maligno. Sua luta é para nos afastar de Deus, do centro de nossa vida onde está Deus. Ele quer nos tirar do caminho certo que nos orienta para Deus. E quando somos tirados deste caminho, perdemos a dignidade e não lutamos pela dignidade do outro. A riqueza e as comodidades da vida passam a serem prioridades, não mais a vontade de Deus, a verdade e os valores do reino. Para quem vive nesta direção a variação do humor é sempre notada. Quando lhe falta o que acredita ser um grande valor torna agressivo ou depressivo. Seu espírito é atingido por uma inquietação e turbamento que provoca descontentamento e tristeza. Sinais do espírito humano A diferença entre espírito maligno e espírito humano é que este último, as motivações veem de dentro da pessoa, os seus instintos, a sua concupiscência, as suas tendências incontroláveis, o seu modo de pensar e de agir sempre individualista, coisas que estão ligadas ao desejo da carne. O primeiro deles é o egocentrismo mental. A pessoa julga e valoriza as coisas e os acontecimentos segundo o seu próprio interesse, muitas vezes contra as exigências do próximo e da comunidade. Vive a ilusão de que suas ideias são sempre as melhores. Rejeita sempre as opiniões dos outros. Não aceita conselhos, correções e justifica tudo. Por isso, muitas vezes rejeita a doação de si a uma comunidade e ao apostolado. Há também o egocentrismo existencial. Tal pessoa que age desta maneira é aquela que procura satisfazer suas necessidades e interesses. Não está preocupada com a família, comunidade e com o mundo. Quer apenas ser o centro e viver na ilusão que é o melhor marido do mundo, o melhor padre, ou qualquer tipo de profissional. Mas, na verdade ele finge e por trás dos bastidores é uma pessoa hipócrita, egoísta. É esperta, mas não é sábia. Recorre a diversas técnicas para ter aprovação das pessoas, mesmo sabendo que lhe falta humildade, empenho verdadeiro e vida de santidade. Ela refugia-se sempre em mecanismo de defesa. Ela sonha de olhos abertos ou defende com qualquer tipo de enfermidade. A busca de compensações também é um sinal do espírito humano. Não devemos estar preocupados com tais compensações. O operário é digno de seu sustento. Mas, se as compensações estão numa linha de interesse pessoal além do que necessitamos podemos cair na avareza, tanto espiritual quanto material. Tem muita gente que procura levar vantagens em tudo. Deseja possuir tantas coisas, vestidos, títulos, meios econômicos de modo sem medida. O consumismo é um sinal do espírito humano. Para nos libertar deste engano, simplesmente humano é preciso compreender mais que ser compreendido, amar que ser amado. Partilhar e não querer receber sempre algo. Ao invés de buscar o bem dos outros, levar o que você tem de melhor e doar aos outros com alegria. Pessoas que sempre querem nos sugar devem ser orientadas a sair do egoísmo e, às vezes evitadas para o nosso próprio bem. Tais pessoas semeiam discórdias, inimizades, inveja, divisões, facções e ciúmes (Gl 5, 20-21). Tal pessoa tem dificuldades de viver em comunidade. Tal pessoa tem urgência de um encontro pessoa com Deus para ser libertada do egoísmo. As funções do diretor neste caso é sempre difícil, pois tal pessoa não deseja crescer na perfeição, como orienta a própria direção espiritual. Neste caso o trabalho do diretor é longo e pouco gratificante no início. O diretor não deve ceder aos caprichos do dirigido e, pouco a pouco ajustar seu comportamento de acordo com a vontade de Deus. Fenômenos extraordinários Cuidado quando encontra fenômenos extraordinários, mas faltam aqueles ordinários, do dia a dia. As mais comuns são: visões, locuções, revelações, profecias, levitações, êxtases, vigílias profundas etc. Elas podem ter como fontes forças parapsicológicas, patológicas ou diabólicas. Quanto a esses fenômenos devem ser tratados de modo ordinário. Não se assuste. O que interessa é que a pessoa estejam em comunhão profunda com Deus e com seu projeto. A santidade e a perfeição estão ligadas à obediência de Deus. Quem não faz a vontade de Deus está no caminho errado. Existem pessoas hipersensíveis que tem desejos de experiências extraordinárias. Elas podem ver ou ouvir palavras misteriosas. Pessoas desequilibradas podem ser vítimas de ilusões ou alucinações histéricas. O que o diretor deve observar é se as pessoas têm uma vida teologal bem desenvolvida e que sua conduta seja feita de humildade, docilidade, caridade fraterna e apostólica, fidelidade aos deveres cotidianos. O diretor deve certificar se o dirigido é dinâmico e que busca a maturidade humana. No início poderá encontrar pessoas com estes sintomas, mas com o tempo elas vão sendo libertas dos mecanismos inconscientes, ilusões e mentiras. O que importa é a seriedade de uma vida voltada para Deus e para o seu projeto de amor. Com prudência e paciência se vai longe. É possível encontrar manifestações sobrenaturais em pessoas que são humildes e não procuram a glória para si mesmo. Há pessoas que, apesar de serem alvos de tais fenômenos procuram ser caridosas com o próximo. Tudo é questão de orientá-las na direção certa. Um sinal positivo é justamente quando a pessoa desenvolve a virtude da fé e do amor em benefício do bem comum, para o crescimento da Igreja, Corpo místico de Cristo. Tal pessoa não deve ir contra a Revelação, a Tradição e o Magistério da Igreja. Pessoas que procuram a glória de si mesmo, a fama, através de exibicionismo e pouco espírito de submissão à Igreja põem em dúvida tais fenômenos. Quando não há obediência em relação aos pastores da Igreja e a caridade com o próximo. Quanto ao diretor, não deve manifestar grande entusiasmo em relação a tais fenômenos, pois se eles veem de Deus produzirão seus frutos. Fique apenas com o que for bom (1Ts 5, 21). Caso ajam dúvidas em relação a dirigir tais pessoas, peça auxílio para outro diretor mais experiente. A prática da Direção Espiritual Introdução A direção espiritual acontece num clima de encontros dinâmicos e orientações eficazes no combate de todo afastamento da verdade e inserção no projeto de Deus, tendo como pano de fundo a união com o Senhor. Na prática da direção espiritual o Senhor é quem fala. O diretor e o dirigido são chamados a desenvolver a arte de escutar a Palavra de Deus e a colocá-la em prática. O encontro deverá acontecer num clima de fidelidade e compreensão. Somente alguém preparado, próximo ao Senhor poderá produzir muitos frutos na vida de quem ministra a direção espiritual. O diretor, sustentado pela graça de Deus e instruído na arte de ajudar o dirigido a crescer na intimidade com o Senhor, verifica a predisposição da pessoa, toma nota dos conteúdos dos encontros e principais dinâmicas a serem utilizadas. O clima ideal para descobrir a vontade de Deus é aquele em que diretor e dirigido são motivados a compreender os desígnios de Deus através da oração e abertura a Deus. É preciso deixar ser guiado pelo Espírito para formar a pessoa, transformar a Igreja e promover a civilização do amor. A direção espiritual obterá resultados positivos quando o Espírito Santo for o primeiro protagonista. O dirigido em segundo e o diretor em terceiro lugar. Deus está no centro, agindo como ator principal. O dirigido como agente ativo em relação às decisões a serem tomadas, passivo em relação a Deus, ao qual deve respeito e obediência. O diretor deve estar atento à vontade do Senhor e às decisões a serem tomadas pelo dirigido, de modo que acontece um triangulo pacífico e integrador, capaz de formar discípulos e missionários de Cristo. 9.2. Encontros de transformação pessoal Aquele que procura auxílio na direção espiritual deseja buscar segurança pessoal, superação de muitas situações que são obstáculos de crescimento e que possam mudar de vida, encontrar o sentido de sua existência. Todos nós necessitamos de um auxílio profundo para reconstituir nossa vida. Os profissionais da arte do conhecimento humano apontam caminhos para a reflexão, o discernimento e a ação concreta em prol de uma vivência autêntica dos valores cristãos. É normal encontrarmos pessoas que não estejam ajustadas e preparadas para uma direção espiritual produtiva. Em primeiro lugar tal pessoa deve ser instruída, a fim ser libertada de todos os obstáculos que impedem seu crescimento espiritual. A preparação do terreno é muito importante. Em alguns casos é necessário recorrer a ajuda de um profissional, sobretudo na dimensão psicológica. 9.3. Encontros terapêuticos O objetivo principal da direção é o desenvolvimento integral do ser humano (corpo-espírito). A Programação Neurolinguística ou simplesmente PNL nos ajuda a compreender. Trata-se de perguntas, linguagem que facilite compreender as pessoas e ter mais sucesso em tudo o que faz. Ela ajuda as pessoas a serem mais competentes e mais felizes. O diretor passa a conhecer certas técnicas que o auxilie no atendimento do dirigido. A psicologia Transpessoal: viver uma maior presença a si mesmo em todas as circunstâncias. Tornar aquilo que se é. A Psicologia Transpessoal estuda os diferentes níveis de consciência e suas relações com a percepção de realidade, crenças, valores, ação, doença e saúde das pessoas. Nesse processo, evidencia uma fase adiantada da evolução humana, posterior à instintiva, emocional e mental. O auxílio espiritual: autocumprimento integral, presença operante de Deus, potência de sua graça, ação ativa do Espírito, visão global do cristão como imagem de Deus. Chamado a ser perfeito como o Pai celeste, seguimento de Jesus. O diretor espiritual precisa saber de onde vem os seus dirigidos. Ao contrário, não entenderá o medo, a insegurança e outras resistências por parte do dirigido. É preciso pesquisar, rever as causas, colocar para fora todo obstáculo (a pratica). O diretor espiritual deve aprender os modos do agir de Deus em relação às pessoas. Sendo assim, terá capacidade de pregar, ensinar, visitar enfermos, saber aconselhar, enfim, ajudar as pessoas a encontrar com Deus. A tarefa do diretor é ajudar as pessoas a experimentarem a ação de Deus e a agir conforme sua vontade, como também incentivar descobertas é o seu objetivo. 9.4. Pistas de ação O diretor espiritual é aquele que sabe ouvir a Palavra de Deus e ajudar o seus dirigidos a encontrar o único caminho que nos conduz ao Pai. Para que isso aconteça é necessário levar em conta algumas pistas de ação. Cabe ao diretor observar as expressões verbais e não verbais emitidas pelo dirigido. O corpo fala. Quando é possível perceber estes sinais a direção deslancha melhor. Esta arte é conquistada depois de algum tempo de experiência. A primeira dica é a capacidade de concentração. O diretor deve estar atento àquilo que o dirigido está dizendo por meio das palavras e de forma objetiva. Quanto à linguagem corporal, o diretor lança o seu olhar em direção ao dirigido e de novo, com sua inteligência, baseado na Palavra de Deus e em sã consciência ajuda o dirigido a descobrir o norte de sua vida. Outra coisa importante é suspender o juízo e não interromper o dirigido por qualquer motivo. Evitando a distração, o diretor poderá interferir quando o assunto é desviado. Algumas frases significativas poderão ser ditas como princípio, tudo o que facilite o desenvolvimento integral da direção espiritual. É preciso concentrar-se para perceber as informações que ainda faltam. 9.4.1. Compreensão empática Na Direção Espiritual deve ser evitado todo e qualquer tipo de dirigismo, dependência do dirigido em relação ao diretor. Tal comportamento distancia cada vez mais o dirigido da liberdade e da maturidade. Trata-se de se colocar no lugar do outro. É necessário entrar na tenda do outro para compreendê-lo melhor. Autoconhecimento e interiorização, caminho verso a Deus. Responde a pergunta: “Quem sou eu?”. Qual é a origem, a história pessoal, familiar, relacionar com os irmãos. Pré-disposição, temperamento, graus de maturidade moral psicológico. Disposição espiritual, formação, oração, busca de dignidade, vida interior, consciência do dever, capacidade de discernimento e entusiasmo para seguir o Senhor. Para desenvolver bem a direção espiritual é preciso estar atento. A posição do corpo é muito importante. Se o diretor está não está bem o dirigido percebe. Se ele olha constantemente no relógio, se começa a bocejar ou olhar para outras direções, o diálogo não fluirá bem e nem produzirá bons frutos. Da parte do dirigido, o diretor deve estar atento. Mãos ou pés cruzados não são bons sinais. Às vezes a pessoa diz uma coisa, mas o corpo diz outra. Por exemplo, a pessoa está ouvindo bem, mas os pés estão apontando outra direção ou quem sabe o corpo inclinado para outra direção contrária. O diretor deve estar atento sobre estes gestos. Uma pessoa que começa a bocejar, olhar para o chão ou para o alto. Tudo tem um significado. É preciso conhecer algumas técnicas para que a direção produza melhores frutos. Tais técnicas serão apresentadas no final desta obra. 9.4.2. Estimular a personalização O diretor deve questionar o dirigido em relação a: a) Aceitação da própria responsabilidade sejam eventos passados ou metas futuras, consolidação da fidelidade e estima mútua. b) Respeito à individualidade. c) Cuidado com os mecanismos de defesa; d) Conhecimento sobre a culpa; e) A história familiar; f) Ambiente social em que o dirigido vive; g) Descobrir e aceitar a situação como própria; h) Ajudar quem tem dificuldade de assumir de forma responsável os compromissos; i) Conhecer as intenções e motivações. Conhecimento da vocação de cada um. Desejo de mudança de conduta. Na direção espiritual podem surgir reações de absorção, alegria, dor, simpatia, amor e gratidão. O diretor não pode determinar nada. Cabe a ele analisar as causas, refletir com o dirigido a sua vida, ajudar o dirigido a traçar planos para sua vida. O diretor deverá manter os olhos abertos para as muitas situações humanas que podem servir como ponto inicial de oração. Não há nada fixo. Uma atitude desagradável pode ser motivo de fuga. 9.5. Acompanhar a ação perseverante Orientações práticas: a) Empenho prático, motivação em relação ao ideal. b) Continuidade, repetição de atos bons; c) Tornar ele mesmo; d) Definir objetivos; e) Elaborar um programa. Um tempo preciso para cada coisa, individuar reforços, preparar-realizar-rever-provar-corrigir. f) Exemplo Quem? Mario e seus companheiros; O que? Relação de amizade com Cristo; Como e por quê? Melhorar a comunicação entre o dirigido e o Senhor para que a alegria seja plena; Quando e onde? Durante este mês, no escritório. 9.6. Orientações segundo W. Barry e W. Connolly Sobre a vida de oração, o segredo da direção está em contemplar o Senhor, saber ouvir sua voz e ter o discernimento na hora agir. Procure motivar o dirigido a pedir o Senhor o que desejas, mas não se esqueça de que o foco é pedir o Espírito Santo. Quando a pessoa pede ao Senhor, de modo espontâneo, coloca em evidência aquilo que é sua vida, seus ideais, sonhos etc. A partir daí o material de trabalho é coletado. A bíblia ajuda o diretor a levar seu dirigido a encontrar com o Senhor. A oração é um conhecimento do Senhor, que se fez homem por mim para que eu possa amá-lo mais e segui-lo mais de perto. A cruz é a fonte principal do amor de Deus. Quem ora, não procura pensamentos úteis, não elabora sentimentos ou forja imagens. Vê o Senhor e coloca-se diante dele como é deixa que aconteça o que tiver de acontecer. A proximidade com o Senhor traz conforto e promessa de maturidade por parte do dirigido. Quando há dificuldade de sintonizar com o Senhor por medo, desconfiança, o diretor entra em cena, sem interferir ajuda o dirigido a ver a face de Deus. Como é possível amar o que não conhecemos e como seguir os passos de quem não sabemos quais são os frutos ou quem não confiamos? Na oração não há saltos e sim passos. A fuga é a atitude de quem acha mais fácil retirar-se para o mundo da mente ou de alguma responsabilidade complexa e difícil na vida real. Por isso, o diretor deverá ter paciência e agir com calma e perseverança. Pouco a pouco o dirigido saberá viver em harmonia entre sua fé e sua vida cotidiana. Quando o dirigido percebe que é necessário e fundamental ouvir a voz de Deus e cumprir sua vontade estará disposto para seguir Jesus e tornar-se missionário seu. As leituras bíblicas deverão ser lidas, analisadas e partilhadas. A lectio divina é um método muito apreciado. Por meio dela podemos colher muitos frutos. Diante de um texto bíblico o diretor interroga o dirigido em relação ao texto de forma objetiva, levando-o a perceber que aquela palavra pode ter alguma instrução para ele. É preciso confrontar a palavra com a vida. É necessário ajudar o dirigido a rezar, encontrar com o Senhor e ter a certeza que o dirigido está dialogando com o Pai. Neste momento acontece o discernimento espiritual, tema que será tratado no final desta obra. Depois que o diretor ler um texto bíblico poderá usar o seguinte questionamento _ Que significa para você esta passagem bíblica? _ Como é que ela o fez sentir? _ Bem ou mal, feliz, triste, apático, esperançoso, desanimado? _ Que foi que você disse a Deus? O diretor ajuda o dirigido a perceber fatos interiores. O enfoque é sobre o que aconteceu. Perguntas chaves: Você escuta o Senhor quando está orando? Você lhe diz como se sente quando o escuta? Se o dirigido não ouve, o diretor pode interrogar o dirigido: Disse ao Senhor como se sente por não ouvir nada? Você contou ao Senhor como se sentiu? Eu não senti nada além de confusão e frustração. Bem, e você lhe expressou essa confusão e frustração? Possibilidades: ódio por pessoas significativas em sua vida, ressentimentos contra Deus, decepções consigo mesmo, um senso de autodesvalorização podem estar submersos em suas consciências. A rejeição leva a tristeza e a tristeza impede a pessoa a ouvir o Senhor. Os sentimentos negativos despercebidos são barreiras que impede o relacionamento com o Senhor. Algumas pessoas começam a direção espiritual num estado de leve depressão. Não percebe nenhuma luz na sua vida. A oração é um fardo pesado para o dirigido. O amor e os dons de Deus parecem distantes. Os diretores espirituais, em suas tentativas de ajudar os dirigidos a perceber o que na realidade está ocorrendo na oração, terão que apontar alguns de seus sentimentos e conflitos que eles evitam. Quando a oração se torna insípida ou parece estar entrando numa parede de ferro, o diretor deve sempre suspeitar da presença de algum ódio não expresso. Nem todo rancor, interferirá no relacionamento da identidade espiritual de alguém. O ódio bloqueia a outros tipos de afetividade e, enquanto não é manifestado ao Senhor, reduzirá a oração a uma reflexão racional. Uma pessoa cheia de mágoa nunca relacionará bem com outras pessoas, muito menos com Deus. O diretor deve dizer ao dirigido que apesar de tudo, da humilhação ou da ferida causada por uma palavra, gesto, atitude de alguém, não pode ser grande o bastante, para estragar a sua vida. Se as pessoas são de difícil relacionamento, com Deus pode ser diferente. “Seu amor é eterno”. Se o dirigido prestar atenção, suas reações com o Senhor “Todo-amoroso” vão mudando paulatinamente. A escolha é do dirigido. A decisão de partilhar a sua vida, seus sentimentos com o Senhor é fundamental. Mesmo que as respostas sejam: “Sinto-me insignificante, sem nenhum valor, para que tu me preste atenção. Nem eu tenho vontade de prestar atenção eu mim mesmo”. Quem começa com simplicidade e deseja partilhar seus sentimentos pouco a pouco descobrirá que tem sentimentos mais profundos para partilhar. Ninguém é tão pobre que não tenha algo de bom na vida para partilhar. 9.7. Sentado à beira do caminho Muitas vezes estamos sentados à beira do caminho, sonhando com uma vida espiritual estável e cheia de frutos, mas nada acontece quando ficamos com os olhos fechados diante do real, da nossa história concreta, de nossa identidade e de nossa missão. Estar sentado à beira do caminho é dar asas ao comodismo e, quem sabe, viver mergulhado nos prazeres da vida e não abertos aquilo que vem de Deus. Muitas vezes encontramos pessoas que se desesperam e acabam sendo agressivas com tudo e com todos. A intenção de querer tudo de uma só vez acaba não conseguindo ser feliz. Os questionamentos nos ajudam a descobrir o caminho a ser percorrido. O que é a verdade? Como posso alcançar o segredo da felicidade? Qual é a melhor forma de viver? Conta-se que Madre Tereza de Calcutà, respondendo uma pergunta sobre a santidade de vida, disse: “é preciso passar uma hora por dia adorando o Senhor e nunca fazer nada que saiba estar errado”. De fato, é preciso ver as coisas com o olhar de Deus. O cego Bartimeu, quando soube que Jesus estava passando por ali, gritava com insistência: “Jesus, filho de Davi, tende piedade de mim!”. Em nossos questionamentos devemos ser perseverantes. Foi por causa da insistência daquele cego que ele ficou curado. É necessário pedir sempre ao Senhor. Ele jamais nos abandona (Mt 7,7-8). Jacó lutou com Deus e, no final, foi Deus quem o venceu. Muita gente não tem humildade enquanto reza. Não é fazendo a nossa vontade que as coisas vão melhorar. Não é desejando tudo de nosso jeito que vamos progredir na vida espiritual. É necessário deixar Deus vencer sempre nossa mania de grandeza, a fim que Ele crescer e nós. Conta-se que um rei estava passando com sua comitiva. E, de repente, um mendigo começou a gritar: “Ó rei, me ajude, dá-me uma roupa nova”. Mas, continuou ali parado até que sua voz desapareceu, enquanto a comitiva seguia em seu caminho. Logo em seguida, outro mendigo pediu ao rei que lhe desse uma roupa nova. Este, porém, não ficou parado. Foi ao encontro do rei e seguiu a comitiva com a intenção de alcançar o objetivo. Depois de tanta insistência o rei mandou que lhe fosse entregue uma roupa nova. Um de seus servos argumentou: “porque o senhor, sendo um homem justo não deu também uma roupa nova para aquele outro mendigo que ficou para traz? Disse o rei: “aquele ficou parado. Não tem iniciativa. Este foi insistente, determinado”. A Direção Espiritual nos tira do comodismo e nos convida a ficarmos de pé e iniciarmos ou reiniciarmos nossa caminhada, a fim de crescermos em santidade e continuarmos nossa missão. 9.8. A coragem para iniciar uma nova aventura: O diretor espiritual deve saber que a pessoa do dirigido tem uma história. É como alguém sentado à beira do caminho esperando uma pista que o oriente no caminho da vida. A vida do dirigido não começa com a direção. Ele está distante da meta a ser alcançada, como também do ponto de partida. A motivação é importante. Por isso, não se trata de um interrogatório policial. O diretor não pode ser curioso em saber detalhes da vida do dirigido, mas somente aquilo que possa ajudar a compreender melhor o dirigido e ajudá-lo a superar os obstáculos, aproveitar. A vida de oração e a amizade com o Senhor deve ser assunto dos primeiros encontros. A Palavra de Deus deve ser o instrumento principal. Os grandes santos e personagens bíblicos tiveram que passar por provações e, no final, obtiveram grandes resultados. Às vezes, a experiência da noite escura, das tentações da vida tornaram motivos até mesmo de desespero. Jó, um homem justo, amaldiçoou o dia em que nasceu (Jó 3, ). Enquanto dava ouvidos aos falsos amigos não era consolado, mas quando Deus entra em cena, tudo muda de cor. Quando é tirada de nossa vida tudo o que temos, resta-nos a fé, a certeza de que para Deus tudo é possível. O cego Bartimeu também recebeu repreensões dos discípulos de Jesus. Mas, no final, o Mestre o chamou. E neste encontro o milagre aconteceu. Ter coragem de iniciar uma nova aventura é converter-se a Deus. Ter coragem de ser autêntico é abrir-se ao novo, é deixar o Espírito de Deus tocar nosso coração e nossa mente para sermos purificados das falsas preocupações. Embarque em uma busca. Que esta busca não seja egoísta. Onde eu estou? Para onde eu estou indo? Para onde Deus quer que eu vá? Estas são perguntas que nos ajudam a descobrir a direção certa. E para nos ajudar, podemos contar com aqueles que viram Jesus e tem experiência para nos ensinar os segredos da vida cristã. No início da caminhada espiritual está a conversão. “O Reino de Deus está próximo!” É esta busca que todos devem se ocupar. 10. Encontros com o Senhor Pesquisando as Sagradas Escrituras vamos encontrar muitos exemplos de mudança de vida. O encontro com Cristo transforma nossa vida. Os discípulos encontraram com o Mestre e passaram a serem homens de Deus, mergulhados numa mística que nem mesmo a perseguição e a morte foram capazes de impedir sua caminhada espiritual. Encontrar Jesus é fazer experiência dele. Ver com o coração e sentir sua vida presente em nossas decisões. É permitir suas palavras encanarem em nós, a fim de produzir bons frutos. Ele mesmo disse: “Eu sou a videira e vós sois os ramos”. “Eu sou o Bom pastor, e vós as ovelhas”. “Eu sou a luz do mundo, e nós também somos luzes do mundo”. Vejamos a baixo alguns exemplos de direção espiritual: 10.1. Primeiro encontro: José e o diretor Iniciemos com o desejo de estar com Jesus. Ele é a videira. O diretor, junto com o dirigido (a) começa o diálogo: _ Você acredita mesmo que o Senhor é a videira de sua vida? Perguntou o diretor. José não respondeu a pergunta, porque não entendeu o sentido da direção espiritual. Então o diretor acrescentou: José, vou contar-lhe a história do Cego Bartimeu: O cego Bartimeu, logo que percebeu a presença de Jesus e de forma humilde, fez o seu pedido. Jesus lhe atendeu. Então, seus olhos se abriram e passou a enxergar sem dificuldades. Quando olhamos para nós mesmos, ficamos submergidos no mar do comodismo. Então é hora de erguer as mãos para o alto e pedir ajuda aos Céus. É Deus que nos auxilia e nos transforma interiormente para ficarmos de pé e continuarmos nossa missão. O que eu quero é aproximar você de Jesus para que ele possa lhe ajudar a vencer suas dificuldades. _ De que maneira você percebe que Jesus está em sua vida? Você sente que ele está intimamente ligado como um ramo na videira que é Cristo? José respondeu: Sim, porque Ele é quem guia a nossa vida. Ele sabe o que é melhor para cada um de nós. _ José, você falou de guia, de alguém que sabe. Isto mostra que você está aberta aos seus ensinamentos. Você está no caminho certo. Para José Deus sabe o que está acontecendo em sua vida e manda sinais, que são parecidos como luzes, a fim de decidir o que deve fazer. O diretor propôs ao dirigido refletir sobre estes sinais ou estas luzes. José afirmou que se trata de inspiração interior e que só é possível percebê-los por meio de oração, contemplação e diálogo com Deus. O diretor ficou animado e ao mesmo tempo atendo às conclusões de José. Será que suas respostas estavam no caminho certo? José já foi direto ao assunto. A Palavra de Deus é a resposta que estou procurando. O diretor concordou com ele e ambos abriram a bíblia e se propuseram refletir o texto sobre a videira Jo 15, 1ss. _ Deus é a Videira verdadeira, disse o dirigido. Assim está melhor, José depois poderemos falar de Deus como guia. Então você é um ramo e está ligado com Deus. É uma situação de movimento, dependência. _ Estamos perto dele, respondeu José. _ Quer dizer que estamos perto dele para buscar algo? _ Sim! Mas do que isso, estamos ligados, conectados. Sem ele não posso viver! _ Dessa dependência, o que você pode receber? _ Tudo de bom. Eu faça a comparação de uma criança que está unida a sua mãe pelo cordão umbilical. Ele é um ser diferente da mãe, mas não independente. Enquanto está no útero materno, depende dela para viver. _ Muito bem José, mas tome cuidado com esse exemplo. Na verdade dependemos de Deus desde o momento de nossa concepção até no momento da morte. Tenho outra ideia que expresse melhor essa dependência. É a árvore que depende da terra para produzir seus frutos. Ela não pode dizer à terra: “eu não preciso de você!”. _ Está bem. Somente a ideia dos ramos unidos à videira nos aponta o verdadeiro sentido de nossa existência. Significa que devemos buscar a Deus sempre. Disse o diretor: o que você mais gostaria de buscar em Deus? Nesta hora, José silenciou. Demorou um pouco para responder. Então o diretor aproveitou o tempo para pensar mais sobre a passagem bíblica, abrindo a Sagrada Escritura. José respondeu: Fortaleza, ciência e sabedoria, para poder fazer o que é certo, de acordo com a vontade de Deus. Ok José Você escolheu certo. Os dons do Espírito são como a seiva que nos dá vida, energia para produzirmos os bons frutos em nossa vida. José acrescentou: _ No relacionamento eu faria o que estou fazendo, e com minha família eu teria mais paciência, porque sou nervoso e falo coisas que magoam. Ótimo, José a paciência é o primeiro fruto que as pessoas necessitam, mas acredito que ela é um fruto muito comum para quem deseja ser bombeiro. Sempre apagando fogo. Mas vamos analisar outros frutos que, consequentemente tendo eles, você também terá paciência. _ Certa vez um jovem era sem paciência e seu pai o enviou a um sábio para obter paciência. Então depois de algum tempo o pai trouxe o garoto de volta. Depois de alguns dias o garoto estava tão tranquilo e em paz, que o pai desconfiou. Queria ver os frutos, mas nada de novo. Um dia o pai agiu com agressividade empurrou o filhos, bateu nele e o jogou no chão. Então filho não reagiu. Depois de reclamar, dizendo: “eu fiz um investimento alto, e nada. O que você aprendeu?”. O filho respondeu. Isso que o senhor está vendo. Pai, se eu não tivesse aprendido eu já havia partido para cima do senhor e nós já teríamos brigado e rolado no chão. Aqui está o que eu aprendi: ter paciência, saber ouvir, controlar os nervos, nunca reagir, mas agir com serenidade, conservando sempre a verdadeira paz. _ Quem não tem paciência terá que controlar suportar o sofrimento. As pessoas que sofrem necessitam de Fortaleza, pois este sofrimento pode estar ligado à fraqueza, à incapacidade de perdoar, amar, compreender as coisas. Como diz o ditado: “Corrija um sábio e o fará mais Sábio ainda. Se corrige um ignorante, ganharás um inimigo!”. _ Por que muitas pessoas sofrem? _ Porque tem alguma coisa que não está me fazendo bem, disse José. José disse ao diretor que tinha um namoro, mas não sabia se ele era a pessoa certa. Disse o diretor: _ Você é jovem e necessita viver sua vida, escolher a pessoa certa e viver em paz. A fortaleza é um dom que vai te ajudar muito. E ela produz em ti a paciência, afirmou o diretor. Então vamos pedir a Deus em oração. Apresente a Deus o seu pedido e eu estarei te orientando em sua oração. Ó meu Senhor Jesus Cristo, Videira verdadeira. Eu te peço que me dê paciência para suportar esperar o momento certo, quando, segundo a sua Vontade e para o meu bem e de toda minha família futura, que o meu relacionamento com as pessoas, de modo especial com minha namorada, possa mostrar a pessoa certa, o marido ideal. Dá-me paciência para que eu tenha este tempo de preparação. Que seja vivido com fé e esperança de um dia ter a certeza de que seja feita a vontade de Deus em minha vida. Que eu possa realizar um ótimo casamento. Se não for com esta pessoa, mostra-me os caminhos a seguir e as decisões a serem tomadas. Após a oração o diretor certificou que o estado do dirigido não era bom. Ele nem tinha tomado café direito e estava sem apetite. Isso aconteceu por volta do meio dia. O diretor indagou a jovem se aquele estado era bom ou ruim. José disse que é negativo. Então o diretor disse: _ Nenhuma decisão pode ser tomada, antes que você mude seu o seu estado interno, caso esteja sendo pressionada por algum sentimento de medo, insegurança ou coação externa. José está com dúvidas e acredita que deve tomar a decisão. A namorada impõe seu ponto de vista e espera que o jovem tome a decisão, do jeito dela, é claro. Sendo assim, José deveria mudar o foco. Se é que ela espera uma mudança da namorada, deve estar atento e pedir que ela mude e não apenas que aceita do jeito que ela é. A decisão de José só poderia produzir bons frutos se ele tivesse tempo suficiente para conhecer melhor a namorada. Esperar que ela mostrasse algo que lhe agrada, caso a indiferença ou algum tipo de vício viesse à tona, seria um sinal de que o relacionamento futuro recheado de espinhos. Disse o diretor: _ José Não é ela que deve mudar de vida, para ser a pessoa certa que você tanto sonha? José responde que os dois devem mudar. José olhe para o Senhor e tenha fé. Depois tome nota de tudo. Das coisas positivas e negativas do relacionamento da namorada e coloca tudo isso na balança, para depois tomar a decisão. Mas procure distanciar um pouco do fato para saber discernir melhor, ok. Por isso eu digo: O tempo é a melhor maneira para decidirmos. Está bem José, mas não se trata de esperar e ficar de braços cruzados tá. Comece a olhar ao seu redor, analisar seu estado interno. E quando estiver em paz de espírito, tendo diante de si todos os pontos positivos e negativos, então tomará a decisão certa. Depois só ir à luta. Deus está sempre do nosso lado e respeita a nossa liberdade. O diretor e dirigido deve levar em consideração o exemplo citado no evangelho: “Eu sou a videira e vocês são os ramos”. Uma vez que o dirigido aceita esta sua identificação com Cristo, tudo torna mais fácil. Depois de verificar que sua vida está unida a Cristo, caso não esteja procure conectar com Cristo, tendo como inspiração os ramos que estão ligados em Cristo. Quanto ao nosso estado de vida, depende de cada um. No caso do matrimônio, são duas pessoas diferentes, que deverão unir para tornarem fecundas no amor. São chamadas a serem cooperadoras da vida humana. A escolha poderá produzir frutos, mas é preciso compreender se está preparado para assumir esta missão, se a pessoa escolhida também tem as qualidades básicas para tal missão. Assim como a árvore anseia para produzir o fruto, a andorinha encontrar o seu par, fazer o seu ninho e ter os seus filhotes, o homem também é chamado dizer sim a esta missão. Não queremos entrar em detalhes em relação a outras missões, como o sacerdócio, a vida consagrada e outras profissões as quais requer mais empenho e produz outros frutos. O diretor marcou outra conversa com o dirigido para desenvolver melhor o tema sobre o discernimento vocacional abordando outros temas bíblicos que pudessem clarear mais a vida de seu dirigido. 10.2. Segundo encontro com o Senhor O diretor espiritual estava sentado em seu escritório quando o dirigido aproximou e perguntou: podemos dar continuidade a nossa conversa? _ Claro que sim. Fique a vontade. Estou vendo que você está alegre, animado. Parece que está bem! O que me conta de novo? _ Sabe, eu tenho meditado esses dias sobre o que falamos. A ideia de que sou ramo unido à videira me deu uma paz muito grande. Sinto que Cristo está em mim. Ele tem iluminado a minha vida. Até meu interesse pelas coisas de Deus mudou. Estou mais atento em relação às pessoas, procuro vê-las como alguém que também está unida a Cristo e que precisa quanto eu de acolhida, respeito e carinho. _ E quanto ao relacionamento com sua namorada, mudou algo? _ Sim. Ela notou que eu estou diferente, mas próximo. Acredito que a consciência de que eu estou unido a Cristo e recebendo dele a seiva, consigo acolher melhor meus irmãos. Aprendi que para tomar decisão sobre o casamento eu devo melhorar ainda mais o modo de tratar minha namorada e também o modo de me relacionar com as pessoas, pois minha namorada terá segurança em relação a minha pessoa se eu demonstro que sou alguém que respeita, que sabe viver bem, não apenas com ela, mas com seus pais, os meus pais e colegas. Aprendi a não reclamar da vida, do que acontece no escritório onde trabalho. Isso está sendo bom. _ Ok. Hoje vamos dar continuidade ao nosso estudo que deverá ser exercitado durante este mês. Quero propor a você uma reflexão importante. Como você sabe, Jesus é o modelo de nossa vida. Que tal refletirmos sobre esta frase: “O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará!”. _ Estou de acordo. Ele é o pastor de minha vida. Nada, me faltará. São palavras profundas. Será que está faltando algo em minha vida? Não sei. Quero saber qual é a tua opinião. _ Muito bem. Em primeiro lugar gostaria de dizer que somos cristãos, chamados a serem discípulos do Mestre. Ser orientado por ele e, consequentemente, estaremos em segurança se aceitamos esta verdade sobre nós mesmos. Você está de acordo? _ Sim, respondeu José A segurança que tenho experimentado nesses últimos dias me dá coragem para conformar minha vida com Cristo. Eu me recordo de outra passagem bíblica que diz: Eu sou o bom pastor. Jesus deu a vida pelas ovelhas. Ele deu a sua vida por mim, porque me ama e quer o bem para mim. Se estiver unido a ele como o ramo em relação à videira, se eu sou ovelha de seu rebanho vou estar em segurança. Ele sempre providenciará. _ Certo. E quando você fala de segurança você lembra-se de algo mais que o Senhor Jesus poderá produzir em sua vida? _ Sim. Eu creio que ele produzirá bem estar, qualidade de vida. Ele também vai expulsar de minha vida o egoísmo, o medo, a insegurança e, sobretudo vai crescer em mim o dom sobrenatural da fé. _ Ótimo José. Estou gostando das respostas. Isso tem tudo a ver com a nossa caminhada de cristão. Sendo um bom cristão poderá cumprir bem seu estado de vida e exercitará bem a sua profissão. _ Olhando para traz como você analisa sua vida? Antes da direção espiritual e agora, as coisas estão ficando mais claras? _ Sinto mais segurança. Nossa, eu estou mais livre, mais tranquilo. Aquele peso que eu suportava no trabalho, aquela desconfiança em relação ao minha namorada. Até mesmo o meu ciúme diminui. Sinto uma pessoa mais aberta e feliz. Peça ao Espírito Santo que te dê discernimento, a fim de que possa compreender sempre mais sobre sua identidade e conformar sempre sua vida ao Bom Pastor, disse o Diretor. _ É verdade. Eu não tinha pensado nisso antes. A gente vive no corre-corre e nem sobra tempo para Deus. Gostaria que o senhor me ajudasse em minhas orações. _ Rezemos juntos, Ó Espírito Santo, Senhor que dá a vida, vinde em nosso socorro, fazei-nos recordar o que é do agrado de Deus Pai e nos mostre a face do Filho, a fim de que sejamos sempre parecidos com ele. Depois desta oração o diretor perguntou ao dirigido: o que o Espírito Santo está dizendo para ti neste momento? _ Ele está dizendo que sempre instruiu o Povo de Deus, desde o Antigo Testamento e tem como vértice as instruções que o Bom Pastor nos deixou. _ De acordo com estas palavras, o que você gostaria de dizer a Deus neste momento? Qual é a sua meta? _ Penso que é ser modelo do rebanho do Senhor. Ouvir seus ensinamentos, colocar em prática sua Palavra e fazer somente aquilo que em consciência eu tiver certeza que estou certo. _ Para realizar esta meta você deve agir de acordo com a Vontade do Bom Pastor. Ser modelo para as pessoas. Mas antes de tudo, modelar-se de acordo com o original, que é Cristo. _ Sim. Apesar de minhas limitações, quero me identificar sempre mais com o Bom Pastor. _ Você se lembra de outra passagem bíblica que Jesus nos chama para assumir algum compromisso na comunidade. _ Hum, não me recordo no momento. Talvez quando Jesus disse aos discípulos: “dai-lhes vós mesmos de comer”. _ Parece ser uma passagem significativa para a nossa conversa. Jesus quis dizer que os apóstolos deveriam tomar atitude em favor do povo e não simplesmente despedi-lo sem nada. _ Sim. Muitas vezes eu tive oportunidade de ajudar meus irmãos e não o fiz por falta de fé. Creio que não podemos acreditar num Deus só pra mim. _ Isto mesmo. Parabéns José. Muita gente acredita num Deus que está ao seu dispor, mas esquece da caridade fraterna, da partilha. Acreditar num Deus que resolve os meus problemas e não me cobra nada é ser alienado. Você está no caminho certo. _ Diante das dificuldades eu preciso ser mais caridoso para obter as graças divina. Quem necessita de muito deve investir muito. _ Está certo, mas tome cuidado para não fazer comércio com Deus. Ter vida em plenitude é ser guiado por Ele. É uma questão de fé. Se Jesus estivesse em seu lugar, como ele agiria? _ Em primeiro lugar ele não faria acepção de pessoas. Para ele todos são irmãos. Ele é o pastor de todos. Eu me recordo quando ele disse: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”. Nossa, será que eu consigo amar como Jesus amou. Ele deu a sua vida pelas ovelhas. Esta é a missão de todos nós José sermos como o Bom Pastor. Imitá-lo, ter os seus sentimentos e agir de acordo com a Vontade do Pai. Você se lembra de mais outra passagem bíblica que esclarece mais o nosso diálogo? _ Talvez a ideia de sermos humildes, de reconhecermos que somos frágeis e que dependemos de proteção da parte de Deus. As ovelhas são animais que exigem cuidados e carinho do pastor. Somos dependentes de Deus, mesmo que tenhamos a capacidade de sermos parecido com o Pastor, não podemos esquecer que somos ovelhas. _ É verdade José, quem se humilha será exaltado. Abrir mão de privilégios, deixar de ser criança mimosa e ser gente grande, capaz de partilhar, ao invés de pedir. Agradecer, ao invés de suplicar; louvar, ao invés de murmurar; fazer silêncio, ao invés de falar coisas desnecessárias, voltar-se para Deus ao invés de contemplar nosso umbigo; dedicar às coisas de Deus ao invés de nos apegarmos aos bens deste mundo; fazer a vontade de Deus ao invés de seguir o que vem à nossa mente de modo sem juízo; enfim, fazer tudo e somente aquilo que dá prazer a Deus ao invés de dar asas aos desejos carnais. - Nossa, Padre, estas palavras são profundas. Muito obrigado. Acho que hoje eu volto para casa mais abastecido e convencido que vale a pena seguir os passos de Jesus e tê-lo como Pastor de nossas vidas. Os dois se despediram e marcaram um novo encontro. 10.3. Terceiro encontro com o Senhor Era terça-feira. José aproveitou a folga em seu trabalho e marcou um encontro com seu diretor. Ao entrar na sala, foi cumprimentado com alegria por seu diretor, que já o esperava em sua sala de atendimento. Ofereceu um café e os dois iniciaram mais um diálogo. _ O que me conta de novo? Perguntou o diretor. _ Eu tenho me esforçado para participar das coisas da Igreja. Tem sido difícil, pois o trabalho e a faculdade não estão dando tempo. _ Vamos começar com uma oração. Você se lembra de que estamos aprofundando sobre a identidade de Jesus e a sua identidade. Com você também eu pego uma carona e estou crescendo muito, pois quando a gente ajuda uma pessoa, acontecem transformações importantes em nossa vida. Posso até partilhar com você sobre algo que me aconteceu nestes últimos dias. _ Oremos, Senhor Deus Pai todo-poderoso, que enviaste o teu Filho para nos ensinar o caminho da vida, ilumina nossas mentes e nosso coração, a fim de que este encontro seja uma oportunidade de conhecer sua identidade e a nossa. Dai-nos uma porção do teu Espírito para que possamos conhecer a verdade e agir de acordo com sua santa Vontade. Amém. Muito bem José Você se lembra da ultima vez com estivemos juntos. Qual é a nossa meta para hoje? _ Penso que é saber um pouco mais sobre Jesus Cristo como luz de nossas vidas. O senhor pode começar me instruindo com sua sabedoria. _ Há 10 anos eu ouvi de um bispo italiano dizer o seguinte: Deus nos chamou para sermos luz do mundo. Não apenas luz para nossos irmãos que estão do nosso lado, mas luz do mundo. Jesus não disse que nós éramos uma pedra preciosa, um diamante ou coisa do gênero. Nós somos luzes. _ É verdade. A luz tem uma propriedade mais importante que qualquer metal precioso. Estão-se na escuridão, pouco vale um metal precioso. _ Desta forma não podemos também esquecer que a Luz maior é Deus, é Cristo. Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andarás nas trevas. José, para você o que significa ser luz? O que o Espírito de Deus está inspirando neste momento? _ Em primeiro lugar, o Espírito é a luz de Cristo. Quando o Espírito está em nós, então estamos iluminados. O Espírito é que dá a vida. Jesus Cristo nos fala que a luz não pode ficar escondida. _ Se o Espírito do Cristo ressuscitado habita em ti, então não se pode caminhar no pecado. É isso? Se não caminhamos na luz, as trevas podem nos devorar, afirmou o diretor. _ Por que Jesus Cristo é luz? _ Porque não cometeu pecado. _ E de que forma você vê a luz de Deus agindo em sua vida? _ Não sei. Tenho que recorrer a Palavra de Deus. _ De modo geral, o que a bíblia nos ensina? _ Bem, a bíblia é um livro que nos ajuda a conhecer o caminho da vida. Ela conta também as situações de pecado, as investidas do mal contra a pessoa. Mas, o Espírito de Deus é quem nos guia, a fim de produzir muitos frutos em nossa vida. _ Nos encontros passados falávamos de segurança. Quem caminha na luz não tropeça. _ É verdade. O nosso agir está ligado à dimensão da luz. Uma vez que o Espírito de Deus age em nós, já não estamos sozinhos. Nós somos templos do Espírito, portanto devemos iluminar a vida das pessoas. _ Está indo bem josé. Agora só falta você unir esta reflexão com seus propósitos. _ Quero caminhar sempre na luz. As vaidades do mundo, o sucesso, os prazeres, todas as coisas que não nos atrapalham devem ser excluídas de nossa vida. _ Tem alguma coisa ou atitude que você gostaria de excluir de sua vida? Pode partilhar comigo? _ Sim. Eu quero evitar piadas indecentes, comentários maldosos, visitas ou reuniões duvidosas e aumentar o meu tempo dedicando às coisas que eu sei que vai encher de significado a minha vida. _ Quero também ser luz na vida das pessoas. _ Vou te dar uma dica que tem me ajudado a ser mais fiel a Cristo. Procure fazer três coisas boas na vida de três pessoas que está junto de você. Que seja um sorriso, uma conversa amiga, um favor prestado de modo consciente. Isso faz a uma grande diferença em nossa vida. _ Tudo bem. Quero também pensar em alguma coisa boa que signifique luz para as pessoas, uma mensagem para meus amigos internautas. Assim eu estarei sendo luz do mundo. _ Ok. Tenha um bom dia e até a próxima vez. Encontro entre o Diretor e um sacerdote _ Bom dia! Cumprimentou o dirigido Pe. N. _ Bom dia! Que bom receber você em minha casa. Fique a vontade, aceita um café? (Depois de ser acolhido na casa paroquial e tomar um café com o sacerdote, iniciou-se a direção). _ Bem, estou aqui para falar um pouco de minha vida espiritual, os obstáculos a serem ultrapassados, alguns vícios que não consigo sair deles e claro: Gostaria que o senhor me desse algumas dicas para minha vida de padre. Sinto que estou meio perdido entre mil opções a serem feitas em meu ministério no campo pastoral, intelectual e teológico. Mas o grande problema é a afetividade. Preciso de uma força extra, uma orientação, um direcionamento para reaprender a viver a vida de padre com mais pureza e mais paz interior. _ A vida cristã, em meio a este mundo de tantas opções é semelhante ao músico que compõe uma linda canção, afirmou o diretor. O músico faz silêncio, interioriza, procura palavras e, finalmente compõe a sua canção. Mas para que sua música seja ouvida necessita entrar num estúdio, longe dos ruídos do mundo lá fora, a fim de gravar sua obra de arte. Como está a sua vida de oração? O que está mais incomodando você? _ Bem, não consigo viver bem minha afetividade. Quase sempre me ocupo com maus pensamentos, desejos desordenados que me levam a ver e até fazer algo contrário ao meu estado de vida. Eu me sinto um lixo, pois não quero isso para mim. _ Meu amigo, em primeiro lugar é necessário encontrar o norte de sua vida. Certamente você sabe o que fazer, mas se encontra fragilizado. Vamos pedir ao Espírito Santo que lhe dê as luzes necessárias para encontrar pistas de ação. È o Espírito Santo o único diretor e protagonista da vida espiritual. Vamos, eu te ajudo. Os dois sacerdotes rezaram juntos: Vinde Espírito Santo... _ Então, o que veio na oração? Alguma inspiração tocou o seu coração? Perguntou o diretor. _ Sim, enquanto rezava me veio muitas recordações. Deus sempre me deu oportunidades de crescimento e me instruiu por meio de vários acontecimentos. Eu me lembro de tantos ensinamentos sobre sexualidade, como viver bem minha vida interior. O problema é que tenho diminuído o tempo de oração, nestes últimos dias. E tenho desobedecido ao que minha consciência tem dito pra eu fazer (ele sorriu). _ Como assim? Não entendi. _ É porque eu sinto sempre a presença de Deus dizendo: faça isso, o caminho é esse. Mas, de às vezes eu acabo cedendo de modo consciente e não faço o que é o certo. Eu acabo caindo em tentação. E muitas vezes alimento o vício. Quando minha consciência diz: “reze e você encontrará forças para fugir da tentação”. Eu acabo justificando e fechando os olhos ao que é o certo. Curiosidade e mania de buscar o prazer como se tivesse faltando algo em minha vida me levam a desintegração de minha personalidade. _ Então, o que pensa em fazer de agora em diante, de acordo com estas indicações? _ Bem, ser mais obediente. Esta é a única razão que me libertará de todos estes desejos desordenados. Não ver o mal, não pensar o mal, não falar o mal. Eu preciso ser perseverante na arte de viver minha vida interior. Necessito entender que minha vida de padre consiste em servir e amar. Rezar e estudar a Palavra de Deus, os documentos do Magistério para melhor compreender minha missão. Está certo, acrescentou o diretor. Mas, não basta renunciar o mal é preciso ter critério, saber o que é o mal e o que é o bem, meu caro amigo. Só assim, poderei tomar a decisão. É preciso ter a convicção de que isso, mesmo que proporcione prazer, mas se não está de acordo com a lei de Deus, deve ser excluído. _ Está certo. Vou procurar crescer no amor de Deus, aumentar concentrar mais minha atenção naquilo que em consciência vai me fazer mais padre. Eu me sinto bem falando com as pessoas, visitando-as, sobretudo os doentes. _ Tenho visto que em sua expressão facial, você está um pouco cansado. Por que? _ É porque não estou conseguindo repousar no tempo certo. Estou meio desorganizado em questão de horário. Durmo muito pouco e ainda libero muita energia em busca de pensamentos e imagens que me dão prazer. Recorro a internet, a conversas não sadias com amigas da internet e até mesmo algumas cenas proibidas. Já fiquei até uma hora da manha entretido com tais conversas. _ Bem, o que eu posso fazer é tentar convencer você de que essas coisas não estão trazendo paz em seu coração. O que me diz? _ É verdade. Sinto que não estou progredindo diante de Deus. Não estou vivendo minha identidade sacerdotal com transparência. Não me sinto qualificado para testemunhar junto aos jovens e casais uma vida autenticamente cristã. O que devo fazer? _ A resposta está no ar. Aquilo que você compreende e está ao seu alcance, em vista de uma vida cheia de paz interior. A partir de agora, faça novas opções. Reencontre o seu caminho de seu sacerdócio e procure lembrar as exigências de seu estado de vida. Vale a pena obedecer a Deus e servi-lo. Aos poucos você vai deixando para trás o que ficou. _ Está bem, vou fazer uma boa confissão e rezar mais. Ocupar mais o meu tempo ocioso com leituras produtivas, repouso e oração. Muito obrigado pela ajuda. Fique com Deus. _ Bom dia! Que o Senhor te acompanhe. 11. Acompanhamento na escolha do estado de vida A resposta vocacional nem sempre é tarefa fácil. A vocação está dividida em três etapas: crescimento humano, cristão e vocacional. Dizer sim a Deus e ter segurança e esperança que a vocação produzirá muitos frutos, é uma grande missão. O dirigido deve levar em conta as exigências de tal estado de vida para não se arrepender mais tarde. O que está em jogo é a sua própria vida e sua missão. O diretor deve ajudar o dirigido a refletir sobre a proposta que o Senhor faz a seus filhos. Toda vocação é um dom de Deus. Deus toma a iniciativa, porém espera que cada um esteja disponível para servi-lo de acordo com sua capacidade. O diretor deve prestar atenção em relação às justificativas e motivações do dirigido. Certamente, motivações superficiais e não convincentes precisam ser analisadas antes de tomar a decisão. Cabe ao diretor escutar a pessoa e iluminar sua vida, a fim de que ela descubra o que é melhor e mais produtivo, tanto para a sociedade, Igreja, família e para si mesmo. As escolas de formação e seminários têm abordado a dimensões humana, psicológica, e cristã, a fim de acertar mais e mais na apresentação e escolha de um candidato. Estes três níveis deverão dar esperança de que tal candidato é portador de boas perspectivas no discernimento vocacional em relação às ordens sagradas, caso aja duvidas, tais candidatos deverão ser acompanhados em suas paróquias. Cabe aos párocos ajudar seus paroquianos na escolha vocacional. Quanto aos padres formadores, sua tarefa é ajudar os seminaristas a amadurecer sua vocação. a) Vocações comuns e específicas A vida é o primeiro chamado. Todos são chamados a viver unidos no amor de Deus, pois somos obras do Criador. A vocação cristão é vida que nasce da vida. Disse Jesus: “o que nasce da carne é carne. O que nasce do espírito é espírito” (Jo 3). A vocação cristã consiste em viver unido a Cristo como verdadeiros filhos e filhas de Deus nosso Pai. Trata-se de um verdadeiro dom recebido. Ninguém pode ser batizado à força e muito menos aceitar uma aliança conjugal ou consagração a Deus por meio de uma pressão externa. A vocação é um dom de Deus que nasce de um diálogo. Deus nos chama a viver em comunhão com Ele (GS 19). A vocação matrimonial é uma vocação específica. Os leigos que assumem o matrimônio também são chamados a ser luz do mundo em seu trabalho, nas escolas ou repartições públicas. Surge também a vocação sacerdotal ou religiosa. Chamados a serem santos, como os que abraçam o matrimônio, porém este último assume uma nova forma de vida, uma missão eclesial ou por meio dos conselhos evangélicos. Juridicamente podemos afirmar que existem três estados de vida: o estado laical, estado clerical e estado de perfeição. O discernimento vocacional deve ser realizado num clima de fé e abertura ao Espírito Santo. b) Orientar os jovens de hoje Lançando um olhar sobre a realidade na qual vivemos, podemos perceber algumas características desafiadoras. Com o secularismo, muitos jovens procuram construir sua vida sem Deus. Desenvolve uma consciência moral autônoma, independente de Deus. A cultura do consumismo e do prazer aqui e agora são obstáculos a serem removidos para que os jovens compreendam o segredo da vida cristã e suas vantagens. A redescoberta de um antigo estilo de vida, como dizem muitos jovens: casamento e vida consagrada estão fora de moda, é a missão de todos os seguidores de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como disse João Paulo II: “Existe dois estados de vida: a vida consagrada e o matrimônio”. Dois caminhos a serem percorridos. São duas pérolas preciosas, porém com o advento do pecado, do egoísmo e afeições desordenadas, continuamente são danificadas, comprometendo assim o futuro da humanidade. A humanidade profana, que ergue a bandeira contra Deus em nome de certa autonomia deve ser desmascarada e combatida com gestos de doação, fidelidade e perseverança. A autonomia e independência dos jovens em relação aos pais e a missão a ser vivida, bem como sua identidade é irrenunciável. Cada pessoa deve viver sua vida por si, de maneira livre e independente. Cada pessoa é responsável por seus atos. Mas, muitos jovens perdem o controle da própria inteligência e do futuro quando deixam de assimilar bons critérios que regulam seu comportamento, apontando pistas de ação para atingir seus objetivos. O significado da existência humana ou sentido da vida é medido pelo volume de sentimentos, desejos e valores provenientes de bons ideais e projetos geradores de vida em abundância. Não é difícil encontrar o sentido da vida quando deixamos a graça de Deus agir em nós. A Palavra de Deus nos orienta no caminho certo, e nos indica o modo de viver para produzirmos muitos frutos. Trata-se da unificação do ser e do agir. Aquilo que eu sou e o que faço tem cheiro de realização. O mundo dos relacionamentos tem tudo a ver com a vocação a qual somos atraídos. Penso que os jovens compreendem sua identidade em relação com outros jovens, com o mundo da escola, do trabalho, da balada, enfim, a religião. Fico desconfiado quando imagino a religião na vida do jovem como um problema. O desafio dos formadores, líderes espirituais cristãos devem ser a de orientar os jovens no caminho da vida, apontar o segredo da felicidade e as vantagens em seguir Jesus Cristo e a viver unido em seu amor. A fé em Deus e em sua mensagem proporcionam respostas às aspirações do ser humano, porém de que forma ele tem acesso a tudo isso? A Igreja enquanto instituição nem sempre está preparada para oferecer aos jovens as razões de sua existência e as motivações concretas para seguir o caminho que Cristo percorreu. Há, sem dúvida, uma avalanche de perguntas sem respostas, um silêncio mortal quando se trata da participação dos jovens na Igreja. Será que as justificativas de um mundo secularizado, hedonista e consumista escondem os limites de uma fé marginal e limitada por parte dos agentes de pastoral e lideres espirituais? Está na hora de mudar. O futuro da Igreja pertence aos jovens. Vamos apoiá-los mais e tentar compreender seus questionamentos... João Paulo II nos falou sobre o testemunho e Bento VI da fidelidade. Acredito que a geração de agentes da pastoral da juventude, diretores espirituais e lideres cristãos devem focar naquilo que é essencial, a fim de compreender o segredo de uma vida autenticamente cristã. Assim falou uma amiga que por muito tempo trabalha com jovens: “Bom, eu acredito que no fundo cada um de nós temos, nem que seja bem pequenininha e escondida, uma fé. Mas com tudo que vem acontecendo, esse mundo secularizado, hedonista, consumista, vem limitando nossa fé, no sentindo de não mais conseguirmos levá-la tão a sério, como antes, perdemos o temor de Deus. Tanto faz rezar ou não rezar, fazer o bem ou não fazê-lo... principalmente os jovens, e isso dificulta a chegada de novos líderes da igreja. Sabe, eu pessoalmente, acho que devemos fazer alguma coisa pra mudar a realidade dos nossos jovens, há poucos anos atrás, nossos encontros ainda eram santos... hoje não são mais...” (Keila Helena, comunidade São Sebastião, Guimarânia). As aspirações dos jovens vêm ao encontro das mesmas intenções e planos pastorais que abordam o verdadeiro sentido da vida cristã e o destino das novas gerações, promovidos pela Igreja. É um dever de a Igreja humanizar, mostrar os caminhos, desvendar os mistérios da vida em plenitude para todos, aqui e agora, sempre abertos para o futuro onde encontra o Senhor glorioso, a fim de nos presentear com os prêmios da vida eterna da realização definitiva do desejo de todos: estar em plena comunhão com Deus. Disse uma senhora amiga: “Pe. os nossos jovens estão carentes de pessoas que olham para eles de maneira amiga e compreensiva, por isso vivem na defensiva dessa forma nossa mensagem não chega até eles. acho que a maioria dos pais vivem em mundos diferentes dos filhos. Trabalham muito, deixando os filhos a mercê do que vier, sinto isso em sala de aula. Outro dia uma aluna falou que não quer trabalhar pois sua mãe trabalhou a vida toda, deixando-a sozinha e hoje ainda é pobre, "revolta"....” (Crislene, Comunidade Nossa Senhora do Carmo) Disse Jesus: “Não fostes vós que me escolhestes, mas foi eu quem vos escolhi” (Jo 15, 16). Este é o ponto de partida na escolha vocacional. Se a pessoa não fez experiência de Deus, por meio de sua graça e de seu Filho Jesus Cristo, não poderá compreender o chamado. Aliás, a vocação é sempre um dom de Deus. Não se pode escolher o que melhor me convém, o que me dá mais prazer ou vantagens. Nenhuma vocação produzirá bons frutos se ela for atingida pelo egoísmo e todo o tipo desejos contrários ao evangelho. É impossível viver bem uma determinada vocação se a pessoa não está disposta a servir e amar. O chamado é em vista de uma missão. Por exemplo: o matrimônio deve estar aberto aos filhos e a vida consagrada, ao serviço fraterno e a evangelização de modo mais concreto e específico. O Espírito Santo inspira as pessoas a praticarem o bem, a construir um mundo mais justo, anunciar o reino, etc. Por isso, dizendo sim a vocação matrimonial, os jovens assumem o compromisso de formar uma família unida no amor de Cristo, segundo as exigências do Evangelho. O diretor deve ajudar o dirigido, em nome da Igreja a discernir com clareza o que melhor adapta sua vida na comunidade e no mundo. Ele fará com que o dirigido abra seu coração aos dons do Espírito para ter a certeza de que tal vocação será vivida com dignidade e com promessas de bons frutos. Cada vocação é como uma viagem, uma grande aventura. Como sacerdote, a pessoa saberá os riscos, as situações a serem enfrentadas, as incertezas em relação ao terreno a ser habitado etc. Mesmo quando a resposta já tenha sido dada, o sim a Deus deve ser vivenciado a cada dia. Como sacerdote, todas as vezes que assumo uma nova missão, sinto como se estivesse dizendo o mesmo sim do dia da ordenação presbiteral. Quem assume uma determinada vocação deve saber que não se trata de uma ação pontual esquecida no passado, mas algo que se celebra e vive todos os dias, até que a morte coloca o seu ponto final. O importante é buscar em Deus a força para viver intensamente. Quem ora e desenvolve sempre um estilo de vida de solidariedade e partilha com as pessoas, encontrará as razões de sua existência. Muitas tragédias deveriam ser evitadas, caso houvesse reta intenção e discernimento. É injusto assumir uma determinada vocação com intenções negativas, contrárias ás exigências daquele estado de vida desejado. Pior é quando a pessoa não é idônea e insiste de todas as maneiras até atingir seu objetivo. Há pessoas que são capazes de assumir mais não estão preparadas para cumprir. Sem certo grau de maturidade, não se pode comprometer com nenhum estado de vida. Dizer sim a Deus, assumindo o compromisso de uma vida consagrada a ele ou da união matrimonial exige certos disposições. A aproximação de Cristo, caminho, verdade e vida nos ajuda a cumprir bem a missão escolhida. Jesus apresenta sua lógica, proveniente da sabedoria do Pai, revelações que esclarece e produz muitos e bons frutos. O encontro com Cristo, o desejo de aumentar a fé, compreender o discurso da salvação realizada nele e a fraternidade universal são elementos importantes no trabalho de animação vocacional. A vida é um dom a ser oferecido. Conhecer Cristo é o primeiro passo na realização do chamado a vida cristã, porém muitos são chamados a segui-lo mais de perto. É necessário conhecer também a grandeza do serviço ao Senhor. O caminho a ser percorrido não é outro senão a participação nos encontros de formação, retiros, direção espiritual, etc. c) Discernimento vocacional O diretor é convidado a ajudar o dirigido a perceber as disposições intimas e atitudes importantes na conquista deste novo estado de vida. É necessário também superar os obstáculos, verificando a ausência de qualquer tipo de atitude incompatível com o estado desejado. O diretor é obrigado a interferir na ordenação de seu dirigido, no caso da falta de idoneidade para ser consagrado a Deus. Cabe ao diretor formar a consciência, por meio de sua experiência e sabedoria, jamais substituir a consciência e a resposta do dirigido. É um direito e dever da pessoa dizer sim ou não a Deus, em se tratando de uma vocação específica. Três vias: O matrimônio, o sacerdócio e a vida consagrada. Cada uma delas tem suas exigências e suas vantagens. Para o matrimônio existe o namoro e o noivado. Namoro significa “no amor”. E o noivado é um tempo de preparação remota para a realização do grande sonho da unidade entre um homem e uma mulher: dois corações unidos para formar uma única unidade. O sacerdócio, além do acompanhamento vocacional, encontros, seminário, cursos de filosofia e teologia, retiros mensais, palestras, também são exigidos estágios nas paróquias, a fim de preparar de modo integral o candidato. Para a vida consagrada, um tempo de acompanhamento, o noviciado, postulantado, encontros, palestras, retiros, votos temporário e depois perpétuo. Será que todos estão aptos a responder sim a Deus, depois de tanta formação e expectativas. Em todos os casos, mesmo que seja na última hora, ainda há tempo para se arrepender. Certa vez uma jovem procurou um sacerdócio três meses antes do casamento por que estava com dúvidas. Atendendo o conselho do padre pediu ao noivo um tempo a mais. Resultado: depois de alguns meses percebeu que não era aquela pessoa. Outro caso foi a de um casal que não atendeu as solicitações do seu diretor. Eles se arriscaram, mas não foram capazes de viver mais do que três meses juntos. Sobre o sacerdócio: um bispo, na hora da ordenação ficou sabendo de algo muito sério em relação ao candidato. Acabou impedindo a tempo que aquele indigno candidato fosse ordenado. Outra vez ouvir dizer que o bispo viajou para presidir uma ordenação. O ônibus que o conduzia quebrou, depois de muito tempo veio outro substituto, mas este outro também teve problemas. Foi um sinal de que tal candidato não devia ser ordenado, confidenciou o bispo. Menos de um ano aquele candidato abandonou o ministério. Muitas outras histórias parecidas aconteceram é preciso ter a coragem para tomar certas decisões. Sobre a vida consagrada: Sei de tantas histórias bonitas, de pessoas que insistiram, resistiram os ventos contrários, foram mal compreendidas, mas depois tornaram grandes homens e mulheres de alto nível de intimidade com o Senhor. Mas também há desistências por falta de um bom discernimento vocacional. A direção espiritual deve promover o desenvolvimento integral como fundamento da graça da vocação sacerdotal. O seminário é como uma sementeira. No início acolhe cada candidato como semente. Pouco a pouco ela é germinada e cresce. Chega o momento em que é transplantada na lavoura de Deus para produzir bons frutos. Da mesma forma, os jovens deverão contar com a ajuda dos pais, grupos de jovens, encontros de formação para noivos e namorados. Depois de tanto diálogo com seu namorado ou noivo, poderá assumir com alegria a vocação matrimonial. Na vida consagrada não é diferente. O ambiente deve ser um terreno adequado, de luz, calor fraterno e testemunho de vida. Só assim os (as) jovens compreenderão o melhor modo de viver sua vida. Uma escolha consciente é sempre fruto de muita oração. Não pode ser fruto de uma motivação apenas pessoal ou interesseira. É preciso responder esta pergunta. Isto é para o louvor do Senhor, para o bem da Igreja (de futura minha família) e para o meu próprio bem? Para chegar a esta resposta é necessário passar pela formação humana, cristã e vocação específica. d) Critérios comuns de discernimento O diretor deve estar atento em relação a todos os fatores espirituais e psicológicos do dirigido, bem como sua capacidade e talentos pessoais. Dificilmente alguém realiza sua vocação procurando tirar proveito próprio. Vocação é um serviço que exige renúncia. O objetivo principal do matrimônio é o bem dos cônjuges e dos filhos. Alguém egoísta, incapaz de partilhar, certamente fará muita gente sofrer. Quanto aos candidatos à vida consagrada e ao sacerdócio, o desejo que o torna mais próximo do ideal proposto por Cristo é o serviço, o louvor de Deus e o bem da Igreja. Cumprir a vontade de Deus e abraçar com amor o seu projeto é missão de todos. O modo como a pessoa vai viver esse projeto, o estado de vida é uma escolha da pessoa, porém, em muitos casos, para o bem da pessoa, da família e da Igreja, algumas pessoas devem ser impedidas para não causar transtornos. Nem todos estão aptos para exercer certos ministérios na Igreja. Cabe a Igreja discernir o melhor para toda comunidade, apostando na formação ao discipulado e distribuindo critérios. É necessário levar em conta certos fatores psicológicos. O temperamento e o caráter da pessoa, suas capacidades, inclinações e possibilidades subjetivas devem ser analisadas. A vocação à vida e a vocação cristã estão em harmonia, bem como o chamado à vida consagrada. Quando há desarmonia é sinal negativo. Serenidade e paz interior são sinais de que a vocação é um bem. Em alguns casos ocorrem distúrbios ou simplesmente insatisfação, sentimento de cansaço e depressão. O diretor deve conhecer os talentos naturais do candidato, as disposições importantes para exercer de maneira frutuosa sua consagração. Não se deve escolher a estrada mais fácil. O que está em jogo é a vontade do Pai. . Reta intenção: plena liberdade. Quais são as motivações de base? Dedicar com amor e plena capacidade ao Senhor. O celibato é justamente um dos motivos para que a pessoa dedique a tempo integral a serviço do mistério da Igreja e de Cristo a toda a humanidade (S.C. 54). Motivação consciente, enraizada na liberdade, dominante e determinante. Paz interior e capacidade de gozar as alegrias espirituais, superar as dúvidas, as perplexidades e as frustrações normais da vida, e tornar sempre aberto e sensível às necessidades dos irmãos. Motivações insuficientes: vocações imaturas sem reta intenção e liberdade interior. Para dedicar às obras sociais ou apostolado, coisas que fazem os leigos. Tendência aos desejos egoístas, procuram apenas vantagens próprias, não só do tipo material como o bem estar físico ou econômico, mas do tipo cultural como a promoção de classe social ou uma formação superior de nível intelectual. Motivações inconscientes: “gratificações vicaria” – servir ao próximo mais procura reconhecimento ou para ser admirado. Bom relacionamento com os outros, mas acaba sendo dependente dos outros. “Fuga defensiva” – de frente às dificuldades, ou às responsabilidades se procura a segurança na obediência, de frente o medo do sexo, o matrimônio, ou a solidão o celibato. Também para expiar os próprios pecados ou para a conversão de uma pessoa importante, fazer os gostos de outro. Busca de um estilo de vida ascético e austero que esconde das pessoas e do compromisso na construção do Reino e sua justiça. Missão do diretor: o discernimento nestes casos não é fácil, pois o dirigido sente seguro de sua escolha e de usa autenticidade. O dirigido pode usar máscaras, fruto dos mecanismos de defesa como a racionalização. Nasce de uma fuga e da evasão de alguma situação indesejável. O diretor deve, em consciência decidir com firmeza e excluir tais pessoas quando não têm motivações convincentes. Em muitos casos, em caso de dúvida, quando se trata de motivações insuficientes ou inconscientes, o diretor poderá ajudá-lo até que encontre as motivações que dão segurança de que fará uma ótima escolha. Idoneidade pessoal: a idoneidade se descreve precisamente como o complexo de qualidades ou atitudes que habitam o candidato para abraçar-lhes. Uma ou duas qualidades não bastam. Quando Deus chama a um gênero de vida, doa também os meios necessários para atuá-la. A iniciativa é sempre divina. Maturidade afetiva: necessidade de controle dos impulsos e das emoções e produz certa estabilidade ou equilíbrio afetivo e sentimental. Exige a integração da sexualidade no amor. Qualidade positiva da pessoa que torna potência de comunhão e de amor fraterno. Maturidade psíquica: capacidade intelectual necessária para cumprir os estudos adequados do próximo estado. Capacidade de ouvir Deus e compreender o seu projeto. Ouvir a própria história pessoal, capacidade de aceitação, consideração positiva e superamento dos conflitos e tensões normais da vida. Maturidade social: concreta harmonização entre as exigências afetivas pessoais e intersubjetivas. Capacidade de escutar o próximo e suas necessidades, amor oblativo, ser um dom para o irmão. O desenvolvimento das virtudes sociais criam pessoas com índole e uma colaboração afetiva na dinâmica dos grupos de vida ou de apostolado. Contraindicação: anomalias que poderão ser apontadas pela psicologia. Lacunas psíquicas graves não compatíveis com o e estado de vida escolhido. Algumas psicoses são motivos de afastamento dos candidatos, mas nem todos os casos devem ser excluídos. É necessário outros critérios pois ninguém é perfeito. Carregamos dentro de nós as imperfeições que devem ser trabalhadas, vencidas e até vistas como pontos positivos na vivência vocacional. Características mais comuns: falta de controle ou de adaptação da própria vida. O neurótico é como um cavaleiro que, acredita estar guiando o cavalo, vai aonde conduz o cavalo (Freud). Ser prisioneiro de conflitos interiores, necessidade de afeto e solidariedade. O neurótico deseja resolver através dos mecanismos de defesa, e não através de uma resposta. Deus Pai, no dom contínuo de Cristo e do Espírito é o formador por excelência de quem se consagra a Ele. Deus serve da mediação humana para que tais pessoas possam discernir o que melhor agrada a Deus segundo a sua capacidade. Em síntese, o diretor ajuda o dirigido a perceber qual é o projeto de Deus para sua vida e sua missão na Igreja. Índice Introdução 1. Ambiente de trabalho 1.2. A fase da pré-ajuda 1.2.1. Preparando o ambiente físico (nunca neutro) 1.2.2. Acolhendo 1.2.3. Atendendo fisicamente 1.2.4. Contemplando 1.2.5. Princípio da contemplação afetiva 1.2.6. Escutando 2. O que é Direção Espiritual? Introdução 2.1. Diálogo e experiência com Deus 2.2. Descobrindo a vontade de Deus 2.4. Movimento em direção a Cristo 2.5. Caminho a ser seguido 2.6. Desenvolvimento integral 2.7. Acompanhamento espiritual Conclusão 3. Como desenvolve a Direção Espiritual? Introdução 3.1. Encontro com Deus Uno e Trino 3.2. Espírito Santo como guia 3.3. Amar a Deus e ao próximo 3.4. Despertar da fé 3.5. Modelo: Jesus Cristo 3.6. Visão global 3.7. Experiência de Deus Conclusão 4. O primeiro protagonista da Direção espiritual: O Espírito Santo Introdução 4.1. O Espírito Santo: guia e mestre da comunicação 4.2. Vida no Espírito 4.3. A Palavra: espada do Espírito 4.4. Experiência do deserto 4.5. Dinamismo interior Conclusão 5. O segundo protagonista da Direção espiritual: o dirigido Introdução 5.1. Vida teologal 5.2. Maturidade cristã 5.3. Respeito à individualidade 5.4. Chamado á comunhão Conclusão 6. O terceiro protagonista da Direção espiritual: o diretor Introdução 6.1.1. Vida de santidade 6.1.2. Vida motivada 6.1.3. Companheiro de viagem 6.1.4. O diretor como diácono do Espírito 6.1.5. Vida trinitária 6.1.6. Fazer a vontade de Deus Pai 6.1.7. Discípulo e missionário de Jesus Cristo 6.1.8. Equilíbrio psicológico 7. Missão do diretor espiritual Conclusão 8. Quais são as metas a serem alcançadas na Direção Espiritual? Introdução 8.1. Plenitude da vida humana: amar e servir 8.2. Tudo para a maior glória de Deus 8.3. Maturidade cristã 8.4. Busca de um sentido para a vida 8.5. Melhor a qualidade de nossa oração 8.6. Cumprir a vontade de Deus 8.7. Discernimento espiritual 8.8. Unificação da vida Conclusão 9. A prática da Direção Espiritual Introdução 9.1. Encontros de transformação pessoal 9.2. Encontros terapêuticos 9.3. Pistas de ação 9.4.1. Compreensão empática 9.4.2. Estimular a personalização 9.4.3. Acompanhar a ação perseverante 9.5. Acompanhar a ação perseverante 9.6. Orientações segundo W. Barry e W. Connolly 9.7. Sentado à beira do caminho 9.8. A coragem para iniciar uma nova aventura: 10. Encontro com o Senhor 10.1. Primeiro encontro: José e o diretor 10.2. Segundo encontro com o Senhor 10.3. Terceiro encontro com o Senhor 11. Acompanhamento na escolha do estado de vida Segunda parte DESENVOLVIMENTO DO RELACIONAMENTO E RESISTÊNCIA CRITÉRIOS PARA AVALIAR A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA ASPECTOS DO RELACIONAMENTO ENTRE DIRETOR E DIRIGIDO A BASE DO RELACIONAMENTO ENTRE DIRETOR E DIRIGIDO PERTUBAÇÕES NO RELACIONAMENTO ENTRE DIRETOR E DIRIGIDO